sexta-feira, 1 de março de 2019

Viagem ao Rio Grande do Sul, de Auguste Saint Hilaire - Parte XXX

Março de 1821
Igreja de São Miguel - Hospital - Escola - Administração

         São Miguel é a mais bem administrada das aldeias que visitou. A igreja erguida de pedra, construída pelos jesuítas, já está com seu telhado destruido por uma grande tormenta. João Deus, um dos primeiros governadores, reuniu o material para reformar a igreja, mas seu sucessor não concluiu a obra. Coisa corriqueira, o investimento é perdido e os estados cada vez mais se individam.

        O hospital aí da existente possui peças extremamente sombrias, recebem ali os enfermos, mas não possui médicos, enfermeiros ou remédios.

        São Luís e São Lourenço não há sacerdotes ou mestre-escolas, mas aqui um cura, um jovem guarani que ensina as crianças a ler. Sendo esta a aldeia menos pobre, possuem um grande plantação de erva-mate e uma estância onde são marcados 3 mil cabeças de gado por ano. Os habitantes são bem vestidos, alegres e nutridos, sendo bem tratados pelo administrador. 

         Em Santo Ângelo, o cura do convento lhe disse com lágrimas nos olhos que houve um tempo que a miséria era tão grande que os índios roubavam couro para comer, onde muitos morreram de fome. 

          Na localidade de São João, Saint Hilaire escreve uma carta ao Coronel Paullete, onde descreve a situação miserável da província, recomendando a supressão de três aldeias: São Luís, São Lourenço e Santo Ângelo. O que permitiria dedicar mais atenção aquelas que permanecem, também a entrega da direção espiritual a estrangeiros. Como outra medida para separar brancos dos índios, a concessão de parte das terras dos índios a famílias vindas dos Açores, estes isentos de impostos por 10 anos, pagariam perpetuamente uma renda para os verdadeiros donos destas terras. 

Um comentário:

PLINIO MÓSCA TEATRO BRASIL disse...

Interessantíssima abordagem através dessa peça de jornalismo histórico.
Naquele tempo, um estrangeiro afirmando que os verdadeiros donos da terras eram os indígenas e que os açorianos deveriam pagar pelo "aluguel", depois do prazo de 10 anos gratuito, é uma informação preciosa.