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segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

A Origem do Lenços e a sua Importância na Indumentária Gaúcha - Parte IV

por Maxsoel Bastos de Freitas


     Segundo o escritor castelhano Fernando O. Assunção o lenço usado pelo gaucho argentino tinha vários usos. Geralmente colocado na cabeça, amarrado a ele, à moda marinheiro ou corsário ou amarrado sob o queixo, sempre sob o chapéu, ou como uma faixa para prender os cabelos compridos. No primeiro caso, serviu como chapéu ou rede, que o homem da vila, rural ou urbano, espanhol, gostava de usar para manter-se cobertos e protegidos da poeira e do sol.

     Esta maneira de usá-lo de acordo com Assunção é uma herança de marinheiros e camponeses peninsulares.

     Para Fernando O. Assunção outro modo de uso, também de herança camponesa com reminiscências árabes, tinha por finalidade proteger a cabeça, as bochechas e o pescoço do sol durante o dia e, para os ouvidos, do orvalho e do frio no início da manhã e do pôr do sol; também da chuva de inverno, vento e frio. 

     O lenço como distintivo político, já foi utilizado de um lado e do outro das margens do rio Uruguai. Na Banda Oriental, aparece o lenço vermelho dos colorados seguidores de Frutuoso Rivera e o lenço branco dos nacionalistas de Oribe. Na Argentina, os colorados de Juan Manuel Rosas combatiam ferozmente os azules e blancos da oposição provincial, anti-portenha.

      Para contextualização devemos lembrar que o Gaúcho não é apenas um indivíduo natural do Estado do Rio Grande do Sul. O Gaúcho é o homem cavaleiro das Américas, que recebe na Argentina e no Uruguai o nome de Gaucho, no Brasil de Gaúcho, no Chile de Guaso, na Venezuela de Ilanero e no México de Charroe. 

      O Gaúcho é um homem ligado ao campo e ao gado; é um homem que se forjou para enfrentar a intempérie, o vento, o frio, a chuva e tomar conta dos animais. Ele que no inicio de sua formação era um caçador, tornou-se um verdadeiro parceiro do sistema ecológico. O Gaúcho, acostumou-se a viver no campo ao ar livre, sob o lombo do cavalo. Temperou sua formação no frio e no calor do campo aberto. 

      O homem Gaúcho, antes chamado de vago ou gaudério, nasceu nas fronteiras da Argentina com o Uruguai e com o extremo sul do Brasil. É um produto da miscigenação indígena com luso-brasileiros e espanhóis. Suas roupas eram e precisavam ser funcionais, reflexos de uma origem nômade.
O lenço vem acompanhando a história do gaúcho e do Rio Grande desde a sua colonização.

      Com a fundação das missões pelos padres Jesuítas , foram então introduzidos os tecidos, pois até então os índios fabricavam suas roupas e outros objetos de couro de animais. Os tecidos eram utilizados para a confecção de roupas que passaram a usar conforme severa moral jesuíta, entre elas a camisa, calções europeus, o tipoy que era um vestido usado pelas índias, e o chiripa, usado pelos índios.

      A colonização europeia, no sul do continente em especial do lado direito da margem do rio Uruguai, trouxe consigo roupas mais requintadas como botas, ceroulas, algumas espécies de gravatas, casacos e entre outros.

      Quando observamos os parâmetros históricos podemos concluir que o lenço atado ao pescoço pode e deve ter surgido da evolução do lenço usado como gravata pelos europeus. Sua maior afirmação ocorreu quando foi adotado politicamente como designativo de cor partidária até o modo de atá-lo ao pescoço, surgindo assim o lenço gaúcho, atado ao pescoço, solto ao peito. Do seu uso, passou a ser instrumento de identificação; companheiros ou inimigos eram reconhecidos a distância pela cor dos lenços.

     Neste contexto, os farrapos que lutaram contra o Império do Brasil de 1835 a 1845, usavam o lenço vermelho, atado de maneira própria como símbolo de seu grupo. Neste particular, os aspectos históricos registram que os farrapos mandaram confeccionar alguns lenços personalizados nos Estado Unidos. De acordo com  Apolinário  Porto Alegre o pedido foi feito no dia 10 de maio de 1842. 

      Se há ligação ou não, com a escolha dos Estados Unidos, para confeccionar os lenços, cabe frisar que a maçonaria vermelha, de origem francesa e de feição republicana, que tem a divisão dos três poderes, tinha muita força nos Estados Unidos, assim como na jovem república rio-grandense e no Prata, visto que muitos de seus lideres eram maçons.

      Os primeiros lenços encomendados que chegaram pelo porto da cidade de Rio Grande, foram queimados pelas forças imperiais ainda na alfândega dentro de seus próprios caixotes. Por outro lado, alguns exemplares que vieram por terra, conseguiram chegar no acampamento volante em terras de Manuel Moura. Estes exemplares eram lenços de seda, estampados no centro com emblemas e legendas, celebrando os feitos e ficaram conhecidos como “lenços farroupilhas”, dos quais ainda existem alguns exemplares em museus e em coleções particulares.

      O Lenço Farroupilha  possui uma simbologia para o estado do Rio Grande do Sul, por conter o Brasão de Armas (Símbolo Oficial). O lenço farroupilha foi encomendado a partir de Montevidéu no Uruguai para uma confecção nos Estados Unidos por intermédio de Bernardo Pires de Oliveira, apontado como o autor dos desenhos. 

      Em todos os lenços farroupilhas, conhecidos, aparecem as letras S. G. C., iniciais de Salve Grande Continente, segundo Alfredo Varela. Um novo exemplar de modo posterior foi confeccionado na Europa, na França ou na Alemanha e apenas chegou ao Brasil após assinada a paz da revolução farroupilha. 

      Novamente os lenços como bandeira ideológica voltam ao cenário de lutas no Rio Grande do Sul nas revoluções de 1893 e 1923, nestas contendas, enfrentaram-se os lenços brancos de republicanos ou ainda chamados de “chimangos” e os lenços vermelhos dos federalistas ou “maragatos”, até os dias de hoje, conhecidos, como os mais tradicionais. 

     Com o surgimento dos movimentos em prol do tradicionalismo e, com a consequente fundação do primeiro centro de tradições gaúchas, os gaúchos e tradicionalistas passaram a ostentar os lenços de tradição das suas famílias.

Conclusão 

     Na lida de campo, no dia-a-dia, o lenço continua a ser usado, por dentro da gola da camisa, como proteção para não suja-lá em dias de poeira, e também para limpar o suor do rosto se necessário.

     A simbologia e o uso dos lenços continuam forte na cultura gaúcha. 

     Quando, amarramos um lenço colorado e um lenço branco, juntos, temos neste ato o símbolo da paz eterna entre os gaúchos, neste ato rogamos para que nunca mais se derrame sangue de outro irmão gaúcho.

       O lenço é a herança que trazermos e cultuamos como lembrança dos nossos ancestrais.

     Com base neste estudo podemos concluir que os lenços, como parte da indumentária gaúcha, tiveram sua introdução no sul do continente pela colonização europeia, trazidos tantos pelos espanhóis quanto pelos portugueses, mas tudo indica, pelo contexto histórico do processo de colonização, especialmente do Rio Grande do Sul e, também da região do Prata que a difusão do uso deste apetrecho como parte da indumentária do gaúcho chegou primeiro pelas mãos dos espanhóis e dai pelo seus usos e costumes acabou espalhou-se praticamente por toda a America.

      Cabe aqui mencionar, para uma maior reflexão, que os índios americanos apaches, conforme registros históricos pesquisados, também usavam um lenço amarrado ao pescoço da mesma forma que o gaúcho ainda usa. Estes índios habitavam o norte do México e, também, tiveram um amplo contato com os espanhóis durante o processo de colonização daqueles povos no decorrer do século XVI. 

sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

A Origem do Lenços e a sua Importância na Indumentária Gaúcha - Parte III

por Maxsoel Bastos de Freitas

2. A chegada dos Lenços no Brasil

      Quando a família real portuguesa chegou ao Brasil, no século 19, apresentou a moda dos lenços usados na cabeça para as pessoas que aqui moravam. Porém, o que nem todo mundo sabia nessa época é que os lenços eram usados na verdade para evitar a propagação dos piolhos nas embarcações que vieram da Europa.

     O problema com piolhos foi tamanho que a rainha Carlota Joaquina foi obrigada a raspar a cabeça.

     As portuguesas e espanholas começaram com a moda de usar lenços bordados na cabeça e caídos sobre os ombros. Já os homens e mulheres franceses optaram por lenços menores e mais discretos amarrados no pescoço. 


3. Primeiros Registros históricos do uso de Lenços no Rio Grande do Sul

     Saint-Hilaire (imagem) que esteve em terras gaúchas e no estuário do Prata entre os anos de 1820 e 1821, deixou importante registro histórico quando anotou que observou gaúchos argentinos da província de Entre-Rios e na cidade de São Borja e descreveu-lhes a indumentária da seguinte forma: 

     "Trazem os cabelos trançados e um lenço ao redor da cabeça, um outro lenço, a que dão um nó muito solto, serve-lhes de gravata; como arma exibem uma grande faca à cinta.

    Também realizando importante registro, na mesma época, o francês Nicolau Dreys , em suas anotações menciona o lenço dos gaúchos, cujo trecho merece destaque abaixo: 

    "...um lenço, quase sempre amarrado na cabeça,..." 

     Quando aos registros nas artes plásticas, temos obras como a no Uruguai, imortalizada por Juan Manuel Blanes quando pintou o gaúcho as vacarias de golilla, com o grande lenço aberto, esvoaçando às costas. Na mesma toada, em terras brasileiras, o pintor Jean-Baptiste Debret também materializou o gaúcho que vivia nas terras do Rio Grande do Sul com um lenço de pescoço, bem no inicio do século XIX. 

     Diante dos registros mencionados passa a ser indissociável que o lenço gaúcho era uma peça da indumentária gauchesca brasileira ou castelhana. Por esta afirmação o caminho da pesquisa a ser realizada passa a ganhar contornos mais amplos devido a necessidade que observarmos a influência castelhana/espanhola na introdução e reconhecimento desta peça de vestuário como parte de nossa indumentária cultural. 

Continua...

quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

A Origem do Lenços e a sua Importância na Indumentária Gaúcha - Parte II

por Maxsoel Bastos de Freitas
1. Origem dos Lenços 

     Os lenços, assim como as roupas, possuem como sua primeira função proteger o corpo. Porém, podem ser utilizados como identificação entre pessoas e seus grupos, suas origens, tribos, status social etc. A história antiga e, mesmo a contemporânea nos revela:

     – Que a rainha Nefertiti foi a primeira mulher na história a usar um lenço na cabeça em 1350 a.C. O tipo de lenço que a misteriosa rainha do Egito usava era conhecido como “khat”.

     – Em 1261 d.C a dança do ventre, dançada no Egito, trazia o lenço como acessório para a dança e para o figurino da dançarina, que amarrava o lenço na cintura como uma saia.

     – A rainha Vitória da Inglaterra e a princesa Elena Meshcherskaya da Rússia foram duas das responsáveis por ajudar a popularizar o lenço como acessório entre o ano de 1837 e 1843.

     Mais a fundo, constata-se que o lenço que deu origem as gravatas masculinas, cachecóis entre outros acessórios de vestuário tem uma história que remonta os antigos egípcios e passa pela história de croatas, franceses e chineses. A origem do lenço também passa pela antiga Roma por um pedaço de pano de linho que era chamado de sudário que significa “pano de suor” em latim.

     Arqueólogos identificaram em torno do pescoço de múmias egípcias uma espécie de amuleto conhecido como Sangue de Ísis. Esse objeto em ouro ou cerâmica possuía a forma de um cordão arrematado com um nó, cuja função era proteger o corpo dos perigos da eternidade.

     Os romanos utilizavam esses tecidos para limpar o suor do rosto e do pescoço, dessa forma a utilidade era mantê-los limpos e não quentes como fazemos hoje em dia. Com o passar do tempo os lenços começaram a ser utilizados em volta do pescoço e também atados aos cintos. As mulheres romanas gostaram dessa moda e logo aderiram.

     Alguns historiadores acreditam que os primeiros lenços de pano eram utilizados pelos guerreiros do imperador chinês Cheng (Shih Huang Ti), em 230 a.C., contudo, existem registros de que esse tipo de lenço já era comum entre os mercenários croatas. 

     Em seu livro “La grande Historie de la Cravate” (Flamarion, Paris, 1994), Francoise Chaile nos conta sobre os aspectos deste apetrecho e sua posterior difusão:

     “(…) Por volta do ano de 1635, um grupo de 6 mil soldados e cavaleiros vieram a Paris manifestar seu apoio a Luis XIII e Richelieu. Entre eles havia um grande número de mercenários Croatas que, separados pelo exílio, permaneceram a serviço do rei Francês. (...)”

     Nesse caso havia até mesmo uma distinção social, hierárquica, pois, os simples soldados utilizavam lenços de algodão enquanto os oficiais utilizavam o acessório de seda.

      Os franceses gostaram tanto dos lenços coloridos de outros povos que passaram a utilizá-los em volta do pescoço, acessório que foi chamado de kravata que é uma palavra de etimologia croata que deu origem as gravatas. Para os franceses os lenços eram usados para mostrar a inclinação política do homem dependendo da cor escolhida.

Material dividido em 4 partes
Artigo de Maxsoel Bastos de Freitas
Parte II

quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

A Origem do Lenços e a sua Importância na Indumentária Gaúcha - Parte I

por Maxsoel Bastos de Freitas

Introdução 

     O objetivo deste artigo é reconstruir através de uma pesquisa e de uma consequente narrativa o processo de construção e patrimonialização de itens da nossa indumentária gaúcha. 


Imagem de Guido Moundin - Tela Fogo no pasto
     Este estudo passa a ter um recorte que apresenta o objeto de pesquisa: A origem do Lenço Gaúcho, que faz parte de uma indumentária típica e cultural para o povo do sul do continente americano e sua proposta como elemento que materializa a ideia de uma identidade gaúcha.

     O estudo parte de parcos recursos de pesquisas que invariavelmente acabam por repetir algumas definições que aparentemente não se lastreiam em bibliografias sólidas que possam indicar que para os conceitos usados foram utilizados métodos estruturados de investigação a cerca do tema. 

     Quando observamos usos e costumes que ultrapassam mais de um século, o registro do processo de construção e patrimonialização a partir do método de coleta histórica, precipuamente oral, carrega para o núcleo da pesquisa uma esfera oculta a respeito das trajetórias de construção da indumentária gaúcha, já que não há registro de estudos envolvendo o universo do acervo de indumentária que atualmente temos como identidade em nossa cultura, especificamente dos lenços. 

     É preciso ter cuidado porque um dos temas fundamentais para trabalhar com história que provem da oralidade, e quando pesquisamos a origem do lenço gaúcho nos deparamos com este recorte, é o das vozes ocultas, pois não há documentos sobre essas memórias, tornando-se muitas vezes campos mágicos ou obscuros para se explorar. Desta forma, é possível interpretar a história de um acervo e de uma cultura por meio da escuta aos interlocutores mais antigos e do registro da história de sua vida, onde a memória é tudo aquilo que remete ao passado no presente, dentro de um lapso de tempo e de um determinado lugar, no caso em analise, no Rio Grande do Sul.

     Pensando assim, este estudo ganha relevância ao termo que nos ajuda a pensar em como artefatos como os lenços passaram a fazer parte das vestimentas e, assim, que tenham passados a ter um sentido para o mundo e para a identidade visual e psicológica dos gaúchos. Do mesmo modo que os interlocutores vivos, as indumentárias, como no caso em estudo os lenços gaúchos, também são narradores e protagonistas de uma história que se personifica e transcende o próprio tempo.
Lenço Farroupilha

     Aqui, compreendemos que patrimônio cultural e de identidade é um status em que os Lenços Gaúchos tornaram-se a própria testemunha, uma fonte carregada de ideais e valores da sociedade na qual foram e são consumidos, usados e/ou constituídos.

     Relaciona-se patrimônio cultural com memória e marcas de identidade de uma sociedade, na qual a memória coletiva atua como narrativa do passado e constituinte de uma identidade social inegável.

     Ainda, os lenços, referidos aqui como parte da indumentária gaúcha, repita-se, são compreendidos como uma experiência condicionante das relações sociais, e não apenas um produto de estética resultante das conjunturas sociais e anseios políticos de uma época. Neste compasso, as interações sociais estão permeadas pelos objetos, onde a indumentária constitui um grupo e escancara seus ideais e vontades.

     Os lenços gaúchos, dentro de um espaço patrimonial, neste trabalho, são caracterizados como um verdadeiro documento, como parte da cultura material e como um bem cultural. O formato, o tamanho, a cor, os métodos de uso, os sujeitos envolvidos na criação bem como as formas de organização e inserção das peças em locais compreendidos como patrimônios são alguns dos aspectos que constituem a trajetória desses artefatos tão importantes.

Material dividido em 4 partes
Artigo de Maxsoel Bastos de Freitas

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

A ética em um mundo liquido - A vida sem ética dá mais trabalho -

          Solicitado em alguns momentos para falar nas palestras sobre ética, principalmente quando se trata de atividades tradicionalistas, me fez escrever estas linhas.

           Refletindo sobre a ética Aristotélica, quando Aristóteles dedicou um livro ao seu filho, "Ética à Nicômaco", fala que a felicidade não é um efeito do acaso, diz ele, ao mesmo tempo que é um dom dos deuses e o resultado dos nossos esforços. A dignidade da felicidade é entendida desta forma. Entre todos os seres vivos, somente o homem pode ser feliz, porque é o único capaz de virtude. Um pouco diferente do que conhecemos hoje sobre virtude, ele a trata como "o fazer bem feito". Aristóteles, rompendo com Platão, acredita na educação para se fazer o certo ou para se fazer o errado, dependendo de como for educado, pois a virtude ética é adquirida, ou seja, é ensinada, não nasce com as pessoas.

           Nenhuma criança nasce com moral ou ética. Ela é educada para tal. Tanto que elas não perguntam para os pais:"- posso fazer xixi aqui ou defecar aqui no chão?" - Ela simplesmente faz. Aos poucos e, com muito trabalho, vamos ensinado o certo para ela. Ensinamos os limites, as regras, o comportamento. 

           Mas como ser ético em um mundo em que a ética é tratada como babaquice? Onde, para o grupo a ética deve ser dura, mas, individualmente, deve ter uma certa "flexibilidade"?

           O uso da necessidade como desculpas... não poder mensurar o tamanho do desvio para medir o maior ladrão... O bem individual se sobrepondo ao coletivo... questões para uma reflexão, pois a vida sem ética dá muito mais trabalho para ser vivida (Leandro Karnal). Pense nisso.

terça-feira, 14 de junho de 2016

Centenário da morte de Simões Lopes Neto

          Vivemos na era da informação imediata. Um clique, e o mundo sabe o que pensamos. Essas facilidades nos fazem refletir o quanto temos de possibilidades de fazer as coisas acontecerem em um tempo muito menor que nossos antepassados. Cezimbra Jacques e Simões Lopes Neto contavam com escassos meios de comunicação para a difusão de seus propósitos. Cada um, porém, fez o que pode. Simões pôs-se a pesquisar o folclore, a sabedoria espontânea da sociedade e reuniu centenas de quadrinhas populares em seu “Cancioneiro Guasca”. Depois projetou a cultura folclórica através das “Lendas do Sul”, dos “Contos Gauchescos” e dos “Casos do Romualdo”.
As rodas de mate ao redor do fogo de chão permitiu que as histórias atravessassem o tempo
          Mas havia um problema, que hoje não enfrentamos: a maioria das pessoas não eram letradas, entre outros fatores. Simões chegaria ao fim da vida como um modesto escritor, desconhecido além dos limites de Pelotas. Hoje nosso grande problema é que sabemos ler, isso mesmo, mas não gostamos muito. Simões Lopes ganhou notoriedade “post mortem”, com grande influencia na construção da identidade do povo gaúcho e do folclore de nosso estado.

João Simões Lopes Neto - (Pelotas, 9 de março de 1865 a, 14 de junho de 1916)

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

O Rio Grande do Sul através do Imaginário Social - Parte I

As mentalidades seriam tudo aquilo que regem os indivíduos, sem que eles percebam, e atua no âmbito do coletivo (grupo), enquanto as idéias se pautam nos estudos do indivíduo. Uma sociedade partilha de conteúdos de pensamentos, interiorizados nos indivíduos, sem que seja necessário explicitá-los



Um ponto importante está na relação do mito com o imaginário social. As narrativas míticas seriam utilizadas pelos atores políticos como uma forma de promover a coesão social. Ao analisarmos a vinculação entre religiosidade humana e o imaginário social, são perceptíveis as diversas práticas utilizadas ao longo da História humana, que visaram legitimar as hierarquizações sociais através da aplicação do sagrado.


Os ritos cívicos, dentro dessa perspectiva, emergem como um mecanismo essencial para reforçar no imaginário social o poder da ordem vigente e as diferenças existentes na sociedade. O imaginário social passou a ser utilizado pelos positivistas para explicar o progresso da civilização e pelos marxistas nas interpretações dos imaginários sociais a partir das análises das ideologias.


“Cada classe social é, ao mesmo tempo, produtora e prisioneira da sua ideologia” (BACZKO, 1984, pp. 304-305). Para complementar podemos admitir que no século XX e XXI, o estudo do imaginário tendeu também a transitar pelo campo histórico, através do desenvolvimento da Nova História Cultural.


O conceito de Imaginário Social foi assim definido por Bronislaw Baczko:


“Trata-se de aspectos da vida social, da atividade global dos agentes sociais, cujas particularidades se manifestam na diversidade do seu produto”. Os imaginários sociais iriam compor uma diversidade de referências, dentro do extenso sistema simbólico que qualquer coletividade seria capaz produzir.”

"De acordo como o desenvolvimento do imaginário social com que um grupo elaborasse, a sua identidade social seria formulada, dessa maneira, uma imagem de si; estipularia a distribuição dos papéis e das posições sociais, assim ratificando a hierarquia social expressa e inserida pela autoridade. As crenças comuns, como forma de controle e coesão social, serviriam para construir uma espécie de código de ‘bom comportamento’ (BACZKO).”

Sobre a formulação das identidades coletivas salientamos que são elas as responsáveis por definir o seu ‘território’ e as suas relações com o meio social e com os ‘outros’. Na ótica do autor, seriam utilizadas na construção de representações dos inimigos e dos amigos, etc. O imaginário social elaborado e consolidado por um grupo poderia possuir como ação elementos de conflito, de divisões e violências reais ou potenciais em relação ao outro (BACZKO, 1984, p. 309).

O autor descreve o imaginário social como sendo um dos mecanismos que iriam regular a vida em sociedade. Assim o imaginário social seria uma forma eficiente de controle da coletividade e também um meio para a legitimação do poder dos indivíduos.


Logo:“Ao mesmo tempo, ele torna-se o lugar e o objeto dos conflitos sociais”. Baczko argumenta que o imaginário social faz parte de todas as sociedades humanas. O filósofo parte do pressuposto que todos os grupos têm necessidade de criar e imaginar, visando, assim, legitimar o poder ( BACZKO, 1984, pp. 309-310).


Em suma, podemos frisar que o imaginário social interage na vida coletiva das sociedades humanas. Sua atuação no meio social se estrutura possivelmente através de uma relação binária e de oposição, como: “legitimar/invalidar; justificar/acusar; tranqüilizar/perturbar; mobilizar/desencorajar; incluir/excluir, etc.” Além disso, o imaginário social dependeria, na visão do autor, dos meios de comunicação para poder difundir as idéias e assim legitimar seu discurso de poder, de acordo com os interesses de um determinado segmento social

Fonte: Site
Historia e historia

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Quer conhecer uma pessoa? Dê poder a ela

"O homem guiado pela ética é o melhor
dos animais; quando sem ela, é o pior
de todos."(Aristóteles, 384 - 322 a.C.)

Nas andanças pelo Rio Grande do Sul, onde palestro sobre a história do estado, passo "batido" na Revolução Federalista, por que, normalmente, não tenho tempo de continuar e aprofundar a discussão. Dado isso, entendo que não falamos sobre o chamado "voto de cabresto", o voto forçado, comprado, um voto sem objetivos e metas, além. é claro, de cumprir com o papel estipulado pelos mandatários.

Neste final de semana participei de uma eleição no CTG Valentes da Tradição, no bairro Sarandi. Eleição presidida pelo Subcoordenador da Zona Norte, o Pena, muito bem conduzida por sinal. Mas um fato me chamou atenção nesta eleição: Os associados, com direito a voto, não estavam preocupados com propostas das chapas concorrentes, eles estavam bitolados a votar a favor e contra pessoas.

Por ser da "turma antiga" do CTG conversamos com muita gente, até por que eu fazia parte de uma das chapas. Um dos associados chegou a dizer: "Se soubesse que tu tava a frente, votava em vocês, mas agora tenho um compromisso com os outros". E com todos que falei sobre propostas em nenhum momento sabiam do que se tratava. Ambas chapas provinham da mesma legislatura atual e estão no CTG há pelo menos 20 anos. As promessas eram as mesmas e, isso incluia, visitar as escolas para buscar pessoas para começar invernadas (promessa antiga de todos).

O Valentes esteve por fechar as portas anos atrás. Estive lá, peguei as chaves, fiz uma assembléia (vou só pra apagar incendios) e montamos um grupo para manter a entidade. Temos pessoas no CTG que, com mais de 20 anos em patronagens, não sabem nada sobre a tradição gaúcha. Acham que invernada campeira é só convidar uma hotelaria de cavalos para o dia do desfile, ou para representar o CTG. Que invernada artistica é pra dançar no almoço de domingo.

Quando isso vai terminar? Não vai. Não tem como terminar. Quem quer buscar o poder, como nas eleições que fizeram eclodir a Revolução de 23, jamais irá descansar e fazer um eleição com idéias, com propostas, com planejamento. Isso poderia fazê-los perder a hegemonia e o poder. Cargos que, mesmo desconsiderado por muitos, gera um status para quem o detém. O poder é uma das molas propulsoras da humanidade. O homem busca o poder permanentemente. Poder da influência, da sedução, do dinheiro, do amor, o poder pessoal, entre outras formas.

Quem tem o poder de decisão, considera-se todo-poderoso a ponto de passar por cima de iguais e trair a confiança das pessoas mais próximas como os seus amigos.


Quer conhecer uma pessoa? Dê poder a ela!