terça-feira, 10 de setembro de 2019

Conhecendo o passado - Por João Carlos Paixão Côrtes

Material produzido por João Carlos D'Avila Paixão Côrtes, para Revista Aplauso, em 2010, e nos enviado por Diego Müller.

          O movimento de 20 de Setembro era um fato histórico-político nacional, diante do qual o Rio Grande do Sul teve um posicionamento definido e que durou dez anos.


          Eu, Barbosa Lessa e os outros todos sempre buscamos a preservação da IDENTIDADE DO HOMEM RURAL GAÚCHO. Mas tanto o homem revolucionário quanto o defensor da colônia são rio-grandenses. Será que o caramuru não merece o mesmo respeito e a mesma dignidade?

           Se tu não sabes o que estás cultuando, qualquer palavra tem um sentido vago que não representa a seriedade do teu propósito. Aí então acontece isso de “Salve a Revolução Farroupilha”, etc., como um acontecimento ímpar, de protesto ou de glorificação. Eu não concordo! Eu acho que é um acontecimento marcante na vida política do Brasil, com são as Baianadas e outras representações. 

            Agora, se em outras regiões os conflitos não tiveram a mesma duração ou se os povos desses locais não empreenderam as suas características definidas, nós fizemos isso aqui no Rio Grande. Aí é questão de identidade, é consciência de origem, de preservação de valores. Se, em outras regiões, não se age da mesma maneira, aí é questão de formação.

           Nós, que iniciamos o movimento tradicionalista, sempre batalhamos contra essa falsa ideia de ser diferente. Não, nós somos é conscientes de ideais, de causas e de postura!

           Se as terras eram de ninguém, quem era dono da terra? Onde é que está o Tratado de Tordesilhas? Mais para a direita, mais para a esquerda? As convenções e determinações dos limites das propriedades ainda não existiam. Então, se não tem definição de propriedade, não tem marca, nem sinal, nem divisão na extensão onde tu moras. A terra é tua ou não é tua?

            A questão não é pegar a história e trazer para os critérios de hoje. É ver o fato como era durante a vivência daquela época. Então é isso que precisa ser entendido, no meu ponto de vista. E como saber disso? Não é o registro do livro, de uma ata ou de um despacho do governador. Os fatos que regulavam as extensões de terra eram pela vivência, pelo poder da força ou da razão de sobrevivência. O que eu procuro fazer, nas minhas pesquisas, é ir ao campo.

            Eu fui lá. Eu vi, dancei, encontrei, convivi!

            Todas as guerras e revoluções trazem como consequência alterações profundas nos hábitos e nos costumes. A Revolução Farroupilha gerou um sentimento de pesar entre os povos dos campos que predominavam no Rio Grande do Sul, porque tanto do lado imperial quanto do revolucionário, se houve paz e respeito depois, foi no sentido político e de direito. Mas o sentimento humano era de tristeza. Os dois lados continuaram informados. Eu acho que as figuras que realizaram esses gestos do passado ficaram esquecidas porque, depois da guerra, o Rio Grande precisava ter novos horizontes, novas esperanças, novas linhas de realizações. Esse sentimento de primitivismo, entre aspas, de índio vago, gaudério, essas figuras ficaram pejorativas.

            Esses elementos semianalfabetos não faziam parte do progresso, porque não tinham a capacidade de delinear os caminhos da economia, da educação e do desenvolvimento. Não tinham condições para estar ao lado de um Brasil que tinha 250 anos e já tinha o seu desenvolvimento.


Revista Aplauso 
Nº:108 | Ano:12/2010

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