segunda-feira, 28 de maio de 2018

"Sem ouvir a população, não é gestão!" - Entrevista com o presidente do CEC

            Recentemente acompanhamos o Conselho Estadual de Cultura em dois grandes eventos no estado. O 2º Congresso Estadual de Cultura, em Bento Gonçalves e o 1º Fórum Estadual de Folclore e Culturas Populares, na UETI, em Ijuí. A convivência nos aproximou de pessoas que fazem a cultura em nosso estado e que representam diversos segmentos. Durante a viagem de retorno para a capital, depois do Fórum, em Ijuí, entrevistamos o presidente do Conselho Estadual de Cultura, Marco Aurélio Alves. Conheça um pouco deste gestor público, ex-secretário municipal, bacharel em artes cênicas.

            Nascido em Canela, Marco Aurélio Alves, Bacharel em Artes Cênicas, iniciou sua vida profissional, nos anos 80, como Produtor Cultural e, em seguida, uniu a essa atividade as funções ator, diretor e professor de artes cênicas tendo estudado e lecionado na Escuela Teatro Imagem, em Santiago, no Chile. Depois da incursão na vida cultural, ampliou o leque de atuação especializando-se em gestão de Cidades, tendo frequentando curso de especialização em elaboração de projetos e captação de recursos oferecido pela Unesco. Desde 2013 é gestor do Instituto Brasileiro da Pessoa e estudante de psicologia. 

             Apaixonado pelo trabalho realizado nos pequenos municípios, de 1993 a 1996 foi Secretário Municipal de Cultura, Desporto e Turismo em Santo Antônio da Patrulha; de 1997 a 2000 exerceu a função de Secretário Municipal de Planejamento, em Tramandaí, tendo acumulado, no último ano, a função de Secretário Municipal de Cultura e Turismo; No ano seguinte, 2001 assumiu como Secretário Municipal de Planejamento de Santo Antônio da Patrulha permanecendo até 2006, tendo retornado ao mesmo município, de 2011 à 2012 quando foi Secretário Municipal de Desenvolvimento Social cargo que, em 2013, exerceu no município de Três Passos. Além disso, de 2001 a 2004 presidiu a Fundação Museu Antropológico Caldas Junior. 

BLOG – Marco, depois de 31 anos da realização do primeiro, foi realizado o 2º Congresso Estadual de Cultura, em Bento Gonçalves. Por que a ideia de realizar, neste momento, o segundo?

Marco – Há muito a se rever, se repensar. O que era prioridade 31 anos atrás pode não ser mais. As necessidades da população e a forma como veem a cultura, pode não ser a mesma. Momento de se repensar. 
Algumas coisas a 31 anos atrás eram prioridade. Era importante que cada órgão público tivesse um setor apra para a cultura. 31 anos depois, existem muitos órgãos gerindo cultura, sem dinheiro. É praticamente inócua a existência se não tiverem a possibilidade de trabalhar, de exercer seus projetos, executar suas ações. Havia de ser revisto! Repensar o financiamento.
Há 31 anos, não havia nenhuma lei de incentivo, não tinham fundos para a cultura. Hoje tem! Como elas vão? A quem elas contemplam? Em todos estes anos nós víamos a cultura como “algo levado para”, hoje vemos “produzido por”. Completamente diferente. Hoje a lógica é outra.
Gestão Pública
        Cada vez que falamos em gestão, em gestão pública, a imagem é de 31 anos atrás. Nessa época não pensávamos, sob nenhuma hipótese, de misturar carnaval, tradicionalismo e folclore. Hoje sabemos que são necessidades, que se amparam e se fortalecem.
Escute na íntegra as respostas em audio



BLOG – Presidente faça um balanço do 2º Congresso Estadual de Cultura:

Marco – Voltei para Porto Alegre certo de que devemos tratar mais sobre gestão, principalmente sobre gestão pública. Nós precisamos aprofundar isso. Aquelas pessoas que ocupam a gestão nos municípios, ou mesmo no estado, elas precisam entender, de novo, o que é gerir a cultura.
Eu diria hoje, que gerir a cultura é não atrapalhar. Pois gerir de forma ultrapassada é atrapalhar. Eu voltei convicto que os produtores culturais e os artistas estão produzindo, apesar de todas as dificuldades que os órgãos públicos impõem. Apesar dos órgãos públicos, a arte sobrevive. E por isso que acho que é a hora de formarmos gestores. Não adianta eu ficar criticando, falando mal deste ou daquele, por que nos temos que oferecer alternativas. E por isso, uma das primeiras questões que a gente viu quando chegou de lá é criar com urgência um curso para gestores para a  cultura, tanto público quanto privado.




Marco Aurélio Alves é um 'Gentleman', com uma incrível capacidade de ouvir atentamente as opiniões e anseios
BLOG – Na área artística costumamos ouvir a frase: “mas, além disso, no que tu trabalha?” - Como tu vê isso, como artista e como Conselheiro de Cultura?

Marco – (risos) nunca uma pessoa imagina que algumas profissões deixem de existir (médico, dentista, psiquiatra...), mas a arte pode deixar de ser uma profissão. E a culpa é de todos nós, da classe artística. Deixamos por muito tempo enxergarem a arte como um “hobby”. Temos que valorizar a nossa profissão. Somos profissionais da área. As vezes se ouve mais quem faz mais barulho, o que faz mais espalhafato e, nem sempre o que faz assim, desta forma, são os que tem maior conteúdo. Isso tem que ser revisto.




1º Fórum Estadual de Folclore e Culturas Populares

BLOG – Marco, como surgiu a ideia deste fórum e qual o balanço que tu fazes destes três dias de debates?

Marco – O Fórum era para que se mostrasse, para a população, que as culturas populares são relevantes. Que elas estão na ordem do dia. Que elas são prioridade. Nós não estamos mais no momento de fortalecer as grandes instituições, as grandes organizações, os grandes produtores. O sistema estadual de fomento e incentivo á cultura tem este nome por que é para fomentar e incentivar quem esta começando ou está com dificuldades. 
             Hoje, eu diria que quem está com dificuldade é o folclore, o canto coral, as bandinhas municipais. Quando nós abandonamos estes segmentos, estas convicções, nós abandonamos por que haviam outros interesses que julgavam que, outros segmentos, eram mais interessante, mais significativos. De certa forma, isso era passado para as pessoas, que era feio ter a cultura ‘folk’, ter as suas tradições... Temos que mudar esta percepção do que seja folclore.

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