sexta-feira, 12 de junho de 2020

Entrevista com Carlos Galvão Krebs para o Diário de Noticias, em 22 de dezembro de 1968


          O Dr. Carlos Galvão Krebs, Diretor do instituto de Folclore e da Escola Gaúcha de Folclore, ambos da Secretaria de Educação, dispensa apresentações.  A entrevista que concede agora a "Regionalismo-Tradição" tem profunda atualidade e estuda um fenômeno que desde algum tempo vem ocupando seriamente os melhores lideres do Movimento Tradicionalista, Algo esta ocorrendo com o nosso Movimento, algo de novo, sério e talvez grave. Para esclarecer as questões a respeito esta página ouve agora uma das maiores autoridades no assunto. Com a palavra, o Dr. Carlos Galvão Krebs:

Vejo sem otimismo, presentemente, o Movimento Tradicionalista. Deflagrado a 24 de abril de 1948, com a fundação do “35” CTG, nesta Capital e no rastro do entusiasmo de ginasianos e escoteiros, o tradicionalismo cresceu desmesuradamente. Mas como em todo gigante o crescimento do cérebro não guardou as devidas proporções com o crescimento do corpo, Assim, o que agora se vê provavelmente é apenas o reflexo, tardio mas inevitável, desse gigantismo”.

          E continua o ilustre entrevistado: “Em suma, falta-lhe embasamento cultural. Poucos, muito poucos, tradicionalistas estudam os variados e importantes aspectos da cultura gaúcha, salvo um ou outro caso isolado, os estudiosos que hoje pontificam no cenário gaúcho são os mesmos de antes de 48. Onde então, a contribuição do tradicionalismo à nossa cultura? O tradicionalista comum se limita, na grande maioria dos casos, a saber uns passos de danças, dois ou três poemas e, vagamente, a época dos nossos trajes históricos. E faz pior: frequentemente hostiliza nos quadros do CTG e até em plenário de congressos, aqueles que se preocupam com os aspectos culturais do Movimento, taxando-os de “Medalhões”.

          Pode-se, então, pensar numa rivalidade entre o peão da estância e o homem da cultura no centro de tradições? "Não. De maneira alguma - nega o Diretor do IF. "Ambos não rivalizam, pois que se completam como duas forças positivas do Movimento. O perigoso, o desagregador, é aquele tradicionalista que não é portador da cultura gauchesca — isso é: não é campeiro — e desconhece o estudo dos múltiplos ramos da cultura gaúcha. Em suma: não é peão de estancia e não é intelectual, mas encontrando cancha procura representar um ou o outro. Como? Diante do leigo, do turista e do próprio tradicionalista menos esclarecido. Ora se inculca como gaúcho autêntico - ainda é dizer: campeiro - ora se reveste de fumaças pretensamente intelectuais dizendo bobagem sobre história, folclore e literatura. E, curiosamente, esse tipo de Tradicionalista é o que mais aparece nos Centros de Tradições e nas atividades tradicionalistas. Tem uma ânsia enorme de aparecer e, como o peão de estância o homem da cultura aparecem com facilidade, na sua especialidade, aquele que não é nenhuma coisa nem outra está sempre em choque com ambos. E aqui chegamos ao “vedetismo” que é o segundo aspecto mais negativo do movimento. Segundo a “Lei de Gresham” - “a má moeda tende a expulsar do mercado a boa moeda". Esses maus tradicionalistas que adoram se ‘adonar’ de posições  de patronagens, mais ou menos perpétuas, terminam por incompatibilizar os bons tradicionalistas com a vida no CTG. E quem não conhece vários Patrões eternos de certos centros de tradições?"

          A respeito de melhores perspectivas para o Movimento Tradicionalista, assim se expressou o Dr. Carlos Galvão Krebs: “Há, pelo menos, três fatos novos a serem considerados e todos altamente positivos. Cronologicamente, o primeiro foi a participação de estudantes da Escola Gaúcha de Folclore no projeto Rondon RS-1, em pé de igualdade com acadêmicos de medicina, sociologia, etc... participação que agora terá sequência no projeto Rondon BR-3, em janeiro, na Amazônia ou no nordeste brasileiro”.

          “O segundo fato positivo foi o aparecimento do livro “Manual do Tradicionalista”, do poeta Glaucus Saraiva, profundo conhecedor da vida no seio do CTG, que equaciona os problemas mais comuns e aponta, aliás, a solução. O manual é indispensável para quem não conta com profundos conhecimentos e queira fazer vida tradicionalista. Extremamente recomendável para patrões e professoras. E vale acrescentar, conhecendo o pouco gosto dos tradicionalista pela leitura, que não basta colocar o manual na biblioteca, é necessário lê-lo, atentamente”.

         “O terceiro fato, naturalmente, é a volta de “regionalismo- tradição” nas páginas do Diário de Notícias. Após tantos serviços prestados no passado “regionalismo-tradição”  volta com força total e numa época em que o movimento mais necessita de orientação e divulgação. O Rio Grande está de parabéns”.
Recorte do Jornal Diário de Noticias com a entrevista datada de 22/12/1968

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