quinta-feira, 9 de maio de 2019

Viagem ao Rio Grande do Sul, de Auguste Saint Hilaire - Parte XL

Maio de 1821 -  Parte 40

Confiscos - Recusas de recompensas - Respeito x cordialidade

     Hospeda-se na Estância Potreiro da Estiva, o proprietário, assim como os outros, queixa-se muito dos bois e cavalos requisitados pelos soldados. Prometem deixar na próxima estância, mas nunca fazem, por vezes são levados para muito longe, e quando já cansados são abandonados e lhes cortam as pontas das orelhas, como marca da propriedade real.

     Como tudo é feito com arbítrio e violência, não se observa nenhuma regra nas requisições, não consultam seus comandantes e até mesmo roubam os animais soltos no campo, assim toda carga cai sobre os proprietários vizinhos as estradas.

     Em outra estância envia um de seus soldados para conseguir bois e deram-lhe quatro juntas, embora não tenha exibido sua portaria e o soldados estivesse a paisana. Isso prova como já estão acostumados a este tipo de aborrecimento.

     Quanto a Saint Hilaire, sempre que faz o pedido de bois tenta ser muito respeitoso e oferece recompensa, que sempre é recusada. Ao contrário de Minas Gerais onde quanto mais se esforçava em ser agradável, melhor recebido era, já aqui devido ao sistema militarizado não acreditavam que algum homem simples e honesto mereça ser respeitado. Quanto mais procura usar de simplicidade, menos respeito tem em retorno.

     Hoje e sexta-feira Santa, todos jejuam com muito rigor. Seus hospedeiros apenas serviram pão e água. Curiosamente seu empregado Mariano foi o primeiro a falar do jejum, até recusando cachaça, mas passou o dia fazendo zombarias sobre Deus e os santos.

Texto: Jeandro Garcia

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