quinta-feira, 23 de maio de 2019

Viagem ao Rio Grande do Sul, de Auguste Saint Hilaire - Parte XLII

Trabalho de resumo de Jeandro Garcia
Maio de 1821 - Auguste de Saint-Hilaire

Cachorros x Homens - Constituição - Revoluções  

         Quando partiu da cidade de Rio Grande um cachorro lhe seguiu por toda viagem e notou a falta do companheiro. Um homem de Cachoeira os encontra e avisa que ficou preso em seu último pouso e os vizinhos haviam o soltado. Então aluga um cavalo e manda Firmino buscá-lo e o trás de volta.

      Acreditava que ficaria extremamente feliz ao reencontrá-los, mas apenas se aproximou e deitou sem responder aos seus agrados. Nota que os cachorros daqui não são tão afeiçoados e nem lambem seus donos, como os existentes na Europa, muito raro também vê-los abanar o rabo.

      Sabe que os brasileiros maltratam bastante seus cães, mas este é bem nutrido, não leva pancada e continua indiferente como os outros. O que é singular com os homens do Brasil que são hospitaleiros, generosos, mas pouco sensíveis a amizade, raramente expansivos, e demonstram pouca alegria quando após longa ausência reencontram seus conhecidos e amigos.

      Todos parecem contentes com a Constituição, que colocará limites no alto poder, porém pouco sabem sobre e ela e os deveres que lhes são atribuídos. Este é um povo calmo, sem exaltação, que irá criar uma revolução em último recurso, mas não terão limites.

      É de admirar que tenham suportado tanta tirania sem reclamar, sem receberem soldos, levavam deles cavalos, bois, carroças e ficavam com suas famílias expostos a rapinagem de soldados subalternos e chefes, apesar disso a maioria não se queixa. Os franceses não suportariam a centésima parte sem uma revolta, com tanta paciência, tudo o que sofrem os habitantes da Capitania do Rio Grande.

      Parou na casa do Major Filipe Carvalho, ele não estava em casa mas foi muito bem recebido por sua esposa. Lhe emprestou bois, serviu o jantar e deu carne ao seu pessoal. Uma senhora muito distinta, encantadora como as espanholas, mas como outras da região possui algo de frio em suas maneiras, constrangedor e desdenhoso. As espanholas o faziam comer em suas companhias mesmo na ausência dos maridos, já as brasileiras, na ausência dos mesmos, o faziam comer sozinho.

       A casa do major é de térrea, não viu em toda esta província uma casa que tenha um andar. Os talheres são de prata, algo comum, mas desconhecem aqui pratos deste material. Também não há tapeçaria ou ornamentos nas paredes.

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