quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

Viagem ao Rio Grande do Sul, de Auguste Saint Hilaire - Parte XXIX

Março de 1821 - Auguste de Saint-Hilaire   (Por Jeandro Garcia)

Trato com os índios - preparação da erva-mate - descasos da província

         Na Chácara do administrador de São Lourenço conhece suas plantações e subordinados. Estes elogiam muito o administrador e falam como os índios são bem tratados com consideração, amando-os e tendo o cuidado de nutri-los e vesti-los. Os índios são como crianças, preguiçosos, mas admitem que devem trabalhar, não estimando chefes que os deixam na ociosidade.

          A tarde ao sair para herborizar encontrou no limite da aldeia uma grande plantação de erva-mate, oriunda dos tempos dos jesuítas. Alguns índios estavam dedicados a preparar a erva deste modo: duas cercas, compostas cada uma de três forquilhas, sobre as forquilhas repousa uma vara horizontal, e assim do outro lado, e varas menores interligam as varas maiores, formando uma espécie de mesa chamada carijo.

         Ali perto é feita uma fogueira alongada, com varetas entre os ramos são sapecadas as folhas e raminhos fazendo-os prestar. Depois deste processo transportam para varais onde em seguida acendem novamente o fogo. Depois socando por meio de um pilão e um pequeno saco de couro.

          Os jesuítas não se contentavam com a erva-mate existente na região, faziam então grandes plantações ao redor de suas povoações. Hoje não existem mais mesmo em São Borja, São Nicolau, São Luís e ninguém pensou em renova-las, apesar do grande benefício que traria para a aldeia.

          Em São Miguel conversou longamente com um europeu, que também se queixa dos abusos e do descaso com a província. Com exceção de 300 soldados vindos de Santa Catarina, os soldados daqui lutaram 11 anos e receberam apenas 2 anos e meio de soldo, e uma peça de roupa. Guerrearam as próprias custas, forneceram gado e cavalo sem nunca abandonar as armas e sem nenhum pagamento.

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