quarta-feira, 3 de abril de 2019

Viagem ao Rio Grande do Sul, de Auguste Saint Hilaire - Parte XXXV

Abril de 1821 - Auguste de Saint-Hilaire

Tratamento nas estâncias - posses em duplicidade

     Mais adiante é acomodado por uma negra em uma choupana muito ruim, se chover com certeza entrará água por todos os lados. Zeladores da estância, velhos negros, relatam que pertencia a um homem rico que submetia uma mulher livre a crueldades inenarráveis. Perseguido e preso pela justiça, fugiu para São Paulo, onde morreu. Todos os seus bens foram abandonados, isso explica a situação do mal estado da estância.

     Na estância do Durasnal foi muito bem recebido pelo proprietário, servindo a ele e seu pessoal almoço e janta, com carneiro e leite muito bom. Apesar de se dizer pobre, as refeições foram servidas em bela prataria. Sua mãe também havia um bom senso, como as mulheres do continente, mas ela possuía muitos índios e logo disse "Essa gente, tem necessidade de ser maltratada, pois do contrário não se consegue nada".

     Ao cair da noite seu empregado se machucou na cabeça, o que provocou risos na mulher, também rindo quando ele passou água ardente no joelho de outro que há dias estava mancando. Não há como estranhar a pouca dedicação dos índios, já que são tratados como animais por estes patrões.

     É comum que o mesmo terreno seja dado a mais de um. Frequentemente pobres agricultores, com a permissão do comandante local, ocupam as terras e depois de todo trabalho, em que colocam seu gado e constroem choupanas, homens de Porto Alegre e outros lugares conseguem títulos de sesmarias no mesmo local.

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