quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Folclore: Os primeiros cuidados caseiros


No seio do povo, quando uma pessoa começa a apresentar evidentes sintomas de alguma doença, a primeira providência da família, via de regra, é obrigar o enfermo a guardar o leito, ou ficar de molho, isto é, ir para a cama.
            Tomada essa providência é lhe imediatamente ministrado um purgativo, para limpar o corpo e aqui registramos uma medida muito comum em certas regiões: a pessoa que toma o purgante veste meias brancas, com objetivo que ainda não conseguimos alcançar.
            Muito importante nesta fase é o chamado resguardo. O enfermo precisa ser preservado de uma série de fatores que, a juízo dos familiares, possam influir em seu estado de saúde. O ar encanado, isto é, uma correnteza de ar, é considerado um grande perigo, pois pode ocasionar um pasmo, um estupor ou um ramo de ar, trazendo como conseqüência uma boca torta, um pescoço duro e outras conseqüências deste tipo, até uma paralisia total.
            Também como resguardo, deve-se evitar que o enfermo apanhe sol nas fontes, vento nas costas, ou que ande com os pés descalços na friagem, pois tais descuidos podem ocasionar uma piora no seu estado de saúde.
            Outra providência tomada de imediato, principalmente quando há desconfiança que a moléstia seja de origem pulmonar (resfriado, gripe, pneumonia, etc.) é a da aplicação de um suadouro que, como o purgativo, também serve para limpar o corpo e obrigar a doença a se declarar. Se for o caso de uma pontada (pneumonia) a aplicação de ventosas ou de cataplasmas (geralmente feitos com farinha de mandioca) é o primeiro remédio.
            Assim que a moléstia for detectada, é ministrada ao paciente a competente medicina caseira, caso alguém da família tenha habilidades para tal, o que é muito comum. Se isso não for possível, recorre-se a um entendido de confiança, recomendado por sua fama, amizade ou por ser o único das redondezas.
            Se todas essas providências não conseguem restaurar a saúde do enfermo, só então, recorre-se a um médico, lamentavelmente, por vezes, muito tarde.
            Quando o doente começa a apresentar melhoras, obtém permissão para abandonar o leito. Passa, então, a ser alvo de especiais cuidados, visando seu pronto restabelecimento. Ainda aqui tem vez o resguardo, onde a dieta tem importante papel. Um resguardo mal feito pode ocasionar uma recaída, quase sempre de funestos efeitos.
            A alimentação passa a ser controlada. De modo geral compreende: pela manhã um chá de frutas secas, com leite e bolachas, ou um mingau ralo, geralmente de maisena, araruta e afins. Como almoço e jantar, nos primeiros dias, apenas uma canja de galinha, de preferência que esteja velha, pois, diz-se, tem mais sustança.
            Nos intervalos das refeições, um cálice de um tônico reconstituinte familiar, quase sempre feito à base de vinho, ovo e extrato de um suco vegetal temperado com mel puro. Uma gemada diária substitui em muitos casos o tônico reconstituinte.
            Com o recorrer dos dias a dieta vai sendo melhorada, caso o paciente apresente evidentes sinais de melhoras e mostre que seu restabelecimento está a caminho. Mas como demora a chegar o dia de uma gostosa feijoada...

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