domingo, 23 de setembro de 2012

Carta aos intelectuais - Giovani Grizotti


Apesar de estar expressando minhas ideias neste espaço, dedico este artigo a quem não vive o tradicionalismo. Para os adeptos do CTG, nada do que escreverei aqui soará estanho.

Venho de uma intensa cobertura jornalística da Semana Farroupilha, com reportagens de TV, textos neste blog e vários projetos especiais, entre os quais, a inédita chegada da Chama Crioula ao estúdio do Jornal do Almoço.

Neste mês de setembro, o estado se uniu em torno de uma tradição. Não houve cidade que não celebrasse a cultura de nosso estado. O Acampamento Farroupilha, em Porto Alegre, espera reunir 1 milhão de pessoas até este domingo, quando encerra as atividades.

Uma tradição que se espalhou pelo país. Emissoras afiliadas da Globo na Bahia e Rondônia deram cobertura às festividades nos seus estados. A Chama Crioula foi acesa, em cavalgada, até na Esplanada dos Ministérios.

Mas há um porém. Há quem diga que trata-se de um fenômeno como temporal, ou seja, restrito ao mês de setembro. Engano.

E os números confirmam: anualmente, quatro maiores grupos de baile animam cerca de 500 fandangos em clubes e CTGs. São aproximadamente 280 rodeios por ano, reunindo cerca de 1,2 milhão de pessoas, entre desportistas e visitantes, segundo cálculos do MTG. Mas pouco disso aparece nas agendas culturais.

Artistas nativistas como César Oliveira & Rogério Melo lotam CTGs e, acreditem, até casas noturnas voltadas ao pop e ao rock. Não raro, esses músicos conquistam prêmios nacionais. E segmentos da mídia com isso? Não se sabe.

Aliás, o que é mesmo tradição gaúcha? Coisa de “gauchinho”, expressão que, não raro, costumo ouvir de alguns colegas. Ou, quem sabe, um “circo”, como me escreveu, esses dias, um desses músicos intelectuais da cultura, reagindo a um texto que publiquei no G1.

A intensa movimentação cultural tradicionalista nos 12 meses do ano não deixa dúvidas: é preciso rever esses conceitos. Afinal, antes de sermos do mundo, temos de ser regionais.

*Texto de  autoria de Giovani Grizotti, 
publicado neste sábado na coluna "Pampianas", 
do Segundo Caderno do Jornal Zero Hora.

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