quarta-feira, 6 de abril de 2011

Tropas e Tropeiros - o Rio Grande toma formas

Cristóvão Pereira de Abreu é considerado o primeiro tropeiro do Rio Grande do Sul. Ele já transitava pelo litoral, levando tropas de gado e mulas, antes mesmo da chegada de Silva Paes para fundar o Forte Jesus-Maria-José.

O Tropeirismo deve ser visto como uma atividade econômica. O recolhimento de gado alçado (xucro) na grande Vacaria do Mar, para levá-lo por terra, em grandes tropas, era uma tarefa muito complicada posto que não havia estradas e pontes. No caminho muitos animais se perdiam ou pereciam. Os tropeiros da época (1650 a 1850, aproximadamente) eram homens experimentados e dominavam a técnica de “repontar” gado e mulas. O destino era sempre o mesmo: a feira de Sorocaba em São Paulo. (as tropeadas continuaram por mais cem anos, mais internamente, mas sem a intensidade e a freqüência do período que antecedeu o barco a vapor e as estradas de ferro).


Foram quatro os caminhos dos tropeiros levando gado e mulas do sul para o centro do Brasil. O “caminho da praia” se estendia desde Montevidéu, seguia pelo litoral, cruzava o rio Chuí, o canal de Rio Grande, o rio Mampituba, entrava em Santa Catarina, passava pelo rio Araranguá, seguia até São Francisco do Sul, donde se dirigia para Curitiba pelo caminho dos Ambrósios. Em 1725 já havia, no Canal do Rio Grande, cobrança de pedágio das tropas de gado vindas da Vacaria do Mar. As tropas, desde a Colônia de Sacramento, até a região de mineração no centro do Brasil, percorriam mais de dois mil quilômetros.

O segundo caminho dos tropeiros, “caminho da serra”, tinha o mesmo traçado do “caminho da praia” da Colônia do Sacramento até os campos de Viamão, mas nesse ponto, ao invés de seguir pelo litoral, buscava os Campos de Lages, pela serra, passando por Santo Antonio da Patrulha, Bom Jesus em direção do Passo da Santa Vitória no rio Pelotas, subia a Lages, passava pela Lapa, Ponta Grossa e fazia o último pouso, antes de Sorocaba, em Itapetininga.

O “primeiro caminho das missões” foi aberto a partir de 1816. ligando as Missões a Vacaria, continuava pelo “caminho da serra” a partir do Passo da Santa Vitória. Este caminho percorria as terras de Cruz Alta, Carazinho, Passo Fundo, Mato Castelhano, Campo do Meio e Mato Português, tornando-se a principal rota dos tropeiros. Este caminho sofreu alteração antes de 1848, ano em que foi mudado o registro de Santa Vitória para o Pontão, local onde passou a ser cobrado o imposto relativo às tropas ou às mercadorias transportadas. Este novo registro recebeu o nome de Barracão, por causa do abrigo destinado aos soldados que cobravam o pedágio das tropas.


Em 1845, surge o “segundo caminho das missões”, ligando Guarapuava e Cruz Alta, inicialmente, passando pelos campos de Nonoai, depois de cruzar o Passo do Goio-En, no rio Uruguai, e mais tarde sendo estendida até São Borja. Esta rota passava pelo oeste catarinense, até os Campos Gerais do Paraná, rumando para Sorocaba. O caminho de 1.200 quilômetros serviu, também, para transporte de gado argentino para São Paulo.


A contribuição dos tropeiros, muitas vezes chamados birivas, na interligação de núcleos habitacionais, fomentando o comércio, patrocinando a miscigenação étnica e criando uma nova cultura, com alteração de usos, costumes, crenças, etc., não se deu somente com as tropeadas de gado e mulas do sul para o centro e norte do Brasil. Os tropeiros foram os responsáveis pelo transporte de todos os tipos de mercadorias, com exclusividade, ate o surgimento dos barcos a vapor e mais tarde das estradas de ferro e rodoviárias.


Os tropeiros e os carreteiros foram, durante duzentos anos, o que são hoje os caminhoneiros. Transportaram, criaram estâncias, plantaram vilas, alteraram o panorama do sul do Brasil colonial e nos ensinaram a fazer o “arroz de carreteiro”; tinham a viola como companheira e consagraram danças tipicamente masculinas como a chula e a dança dos facões.


Texto Manoelito Savaris


www.portalmtg.com.br

Um comentário:

A Da Costa-Tyler disse...

Ao fazer uma pesquisa genealógica de meus ancestrais, encontrei este artigo interessante e fascinante! Obrigado!

Daqui dos Estados Unidos, A. Da Costa-Tyler