quinta-feira, 18 de outubro de 2018

Viagem ao Rio Grande do Sul, de Auguste Saint Hilaire - Parte XXI

Repouso do viajante - Bailares - Índios e hábitos - Mal recepcionados

         A noite repousam em uma cabana muito simples, onde com a chuva entra água por todos os lados. No Brasil não há o hábito de se despir totalmente para dormir, nos quartos uma cama e colchão de palha, mas ali nem isso. Cada um dorme sobre o arreamento do cavalo, estendendo no chão a carona, o lombilho enrolado como travesseiro, sobre a carona o pelego e deita-se por cima, coberto e enrolado no pala com a cabeça destampada neste simples leito.

         Enquanto escreve o diário um mestiço toca em uma viola testes canções espanholas, junto dançam soldados e índias, com passos sutis em uma lenta marcha, com algumas figuras e de atitudes muito sérias e algumas vezes indecentes.

         O Alferes Antônio Francisco Souto está há 12 anos em sua estância, e de lá pra cá a província somente decai, foi invadida duas vezes pelo inimigo, era necessário mais gente, então retiram estes índios da agricultura e os tornaram soldados, deixando para trás a sua cultura, os mais jovens não aprenderam a cultivar a terra, se entregando a ociosidade, quem desejava escapar do serviço militar se espalhou pela capitania. Casamentos cada vez mais raros, com a prostituição das índias as doenças venéreas progrediram e a população diminuiu sensivelmente.

         Adiante procurou pelo Padre Alexandre, que o recebeu com extrema rispidez, negando-lhe o pouso, insistiu identificando-se melhor, e mais rude ainda ficava o homem. Montou no cavalo, disse alguns xingamentos e partiu, mas seu empregado ficou para trás e ouviu severas ameças. Então foi até o padre e lhe disse que se necessário saberiam lhe mostrar que não estava tratando com poltrões. Mas Saint Hilaire já havia sido avisado que este padre fazia uso da batina para obter vantagens indevidas dos fiéis.

        Mas depois seu guia lhe contou que este sacerdote já era conhecido por negar comida aos viajantes, mandando-os comer pêssegos no campo. Mas que poderia ter sido mais cordial se ao invés de entrar na propriedade, tivesse pedido para chama-lo e somente com a permissão entrado no local.

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