quinta-feira, 11 de outubro de 2018

Viagem ao Rio Grande do Sul, de Auguste Saint Hilaire - Parte XX

Fevereiro de 1821 - Auguste de Saint-Hilaire  (resumo de Jeandro Garcia)

Índios: Efeitos do mel - docilidade - ingratidão - costumes jesuítas

       No outro dia encontrou sua égua arranhada por garras de onça, possivelmente foi defendida pelos outros cavalos, pois estavam todos a sua volta, como se fizessem uma muralha com seus corpos.

       Soube que dois empregados índios ingeriram o mesmo mel, sem que nada os acontecesse, para provar-lhe um dos índios pôs-se a provar em sua frente, mostrando mais uma vez sua total falta de noção de futuro, mas felizmente nada aconteceu, aumentando ainda mais o mistério.

      O mel foi reconhecido como vindo da lechiguana, este segundo mel ingerido hoje pelos índios eram da mesma abelha mas de colmeias diferentes, seriam talvez retirados de locais distintos? Mas como explicar que no dia anterior todos ingeriram o mesmo? Por via das dúvidas não experimentou novamente.

      Mesmo após todo o cuidado que teve com Firmino também em sua agonia, o mesmo, mestiço de índio, hoje o ofendeu grosseiramente, sendo castigado. Constata que o branco até pode ser ingrato, mas não exatamente após ser beneficiado em algo, o negro reconhecendo a sua inferioridade e sem esquecer o seu passado, são mais agradecidos, mas o índio lembra do passado como um sonho, sem tomar lição alguma para o futuro.

     O vaqueano que o acompanha leva junto uma índia e seu filho, mas possui esposa em sua estância. Esta docilidade que se entregam são para este homem rude apenas uma fonte de prazer. Algo que reintera como terrível para esta capitania, onde em breve o índio perderá as suas melhores características e estes mestiços reuniram os piores vícios dos brancos com os vindos do índio.

      Os Estancieiros da região que não possuem escravos recorrem aos índios como peões, sendo muito indicados pela sua docilidade, destreza com o cavalo e alguns até fazem a dona. Não igualmente são elogiados pela sua inteligência, mas frequentemente reclamam de não possuírem sentimentos de gratidão e pouco conservam a amizade, mesmo entre eles. Prova disso é a facilidade que abandonam seus filhos com os brancos, sem saber como serão tratados.

      Perguntou se tinham ouvido falar dos jesuítas por seus pais, responderam que não, mas conservam vários hábitos, pois seus pais lhes ensinam a rezar e entoar preces diariamente. Os mais jovens sabem apenas vadiar, já os mais velhos não estranham o serviço agrícola.

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