quinta-feira, 23 de agosto de 2018

Viagem ao Rio Grande do Sul, de Auguste Saint Hilaire - Parte XVI

Janeiro de 1821 - Auguste de Saint-Hilaire
Charruas - Minuanos - Guaranis - Estancieiros

           O alferes lhe conta sobre os índios charruas e minuanos, que no passado se uniram e depois foram divididos em pequenos grupos, passando por diversos chefes e pouco lhes sendo obedientes. Quando descontentes passam para outro grupo.

           As tropas reunidas aqui são em torno de 100 paulistas da legião do regimento dos Dragões do Rio Grande e das milícias do Rio Pardo. Todos muito descontentes, pois há 30 meses não recebem soldo.

           Durante o governo Artigas para sofrer qualquer vexame bastava possuir bens ou ser denunciado por ser do partido oposto, especialmente próximo a Montevidéu. Muitos proprietários foram mortos ficando apenas peões, mestiços, homens sem princípios, moral ou caráter. Com a tomada dos portugueses os proprietários tem até dois meses para revindicar, pois muitos militares, com o atraso do soldo, montam estâncias com o gado selvagem que encontram, afim de se manterem.

           Chegando ao Campo de Belém, ao redor muitas choupanas de índios, vindos de outros lugares, remanescentes das aldeias jesuítas. Com a maior parte dos homens mortos nas guerras mulheres e crianças refugiam-se com os portugueses. Entre os que estão aqui os homens alugam-se como peões, crianças como ajudantes de oficiais e as mulheres se prostituem. Nenhum índio possui alguma coisa, embora os homens sejam razoavelmente bem vestidos e as mulheres melhores ainda, mas as crianças apenas com trapos, quase nuas. Domingo as mulheres vestem indumentária índia.

            A diferença dos guaranis para outros índios é a sua humildade, prestimosidade e obediência, sendo muito estimados como peões e crianças sempre dispostas a cumprir o que lhes pede. Há uma guarnição formada por lanceiros guaranis, muito elogiados por serem dóceis, pacientes e suportarem todas as privações.

          As mulheres guaranis não se entregam por libertinagem, talvez uma consequência desse espirito de servilismo. Aqui a maior parte dos milicianos tem uma índia, que são úteis pois sabem lavar e costurar. A parte ruim serão os filhos nascidos que serão abandonados pelo pai, vivendo assim como gaúchos espanhóis, degenerando a raça branca na Capitania do Rio Grande.

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