Já tenho medo de abrir o guarda-roupas e ter uma "Live" lá, me espiando

  Antes que pensem que sou contra as LIVES, não! É apenas uma pequena reflexão...

   Parece brincadeira, mas não é. Em tempos de quarentena, isolamento social, do #FicaEmCasa, as pessoas passaram a ter mais tempo na internet. Mas mesmo navegando, navegando, viajando... as vezes se torna um tédio. Desde que  começou a quarentena pelo COVID-19, basta abrir o Instagram, facebook ou até no Twitter para notar que tem gente transmitindo algum conteúdo em tempo real. 

meme fez sucesso - Depois de muitas LIVES

           Por muito tempo, as transmissões feitas ao vivo eram, em sua grande maioria, de empresas de jornalismo ou artistas. Mas os tempos mudaram e a tecnologia facilitou a vida do leigo. Tem live de cursos diversos, reuniões, cultos de igrejas, jardinagem, culinária, politica, futebol, bobagens, e blá, blá, blá... Entre os artistas o que mais se vê são lives musicais e de dança, tentando levar seus talentos até os seus fãs. No Rio Grande véio de Deus, tem shows improvisados, ou mesmo, produzidos dentro das próprias casas. Muitos se chocam com outros colegas em horários, impedindo que possam ser acompanhados pelos fãs e amigos. Mas tem aqueles que conseguem prender e chamar a atenção. No inicio de abril, por exemplo, o sertanejo Gustavo Lima bateu o recorde com mais de 750 mil pessoas assistindo ao mesmo tempo (quase um jogo da Champions League). Marília Mendonça fechou sua live com incríveis 2,5 MILHÕES de likes e nada menos que 32 MILHÕES de visualizações em apenas 4 horas. 

           O que antes era exclusivo de alguns hoje é dominada pela população. E as redes sociais banalizaram o uso do streming, dando voz a quem antes não tinha. Em uma Live do Gustavo Neto, por exemplo (confesso que não conheço, por que não é do meu mundo), mas estive lendo sobre ele, que promoveu uma Live e disse que doaria cestas básicas para uma comunidade e conforme fosse crescendo a audiência, ia aumentando. Pois pegou mal. E tomou-lhe pancada de tudo quanto foi lado, visto que parecia se preocupar somente com as visualizações. Deu a volta por cima e partiu de uma tonelada de alimentos doados.

          Temos muitos canais bons em nosso meio tradicionalista. Como o "Fala ai, Professor!" - De Toni Sidi Pereira, que trata sobre diversos assuntos, entrevistas e debate sobre danças tradicionais gaúchas, que é o que tem grande procura. Mas também tem coisas nada produtivas nas lives,principalmente pelo facebook. O vídeo é como uma palestra. O comunicador tem que estudar o tema, fazer roteiro, ter um ambiente bem iluminado, áudio bom, câmera de qualidade, habilidade na fala para não tornar algo do tipo: Cumprimentar quem está assistindo, trotear um pouquinho, cumprimentar e mandar abraços e, no final, descobrir que ficamos 40 min, ou mais e não somamos nada ao conhecimento. Por que os videos do Peninha (Eduardo Bueno) são divertidos e prendem a atenção? O jeito de comunicar. Se é bom ou ruim o conteúdo, não estamos julgando o mérito, mas a técnica de transmitir o conteúdo.

         Com essa quarentena imposta pelo vírus, temos que ter cuidado para não ficar excessivo o uso da ferramenta. É tanta live para assistir que, se assistirmos todas, não damos conta de tudo. Tenta-se assistir e dar atenção aos amigos, que fazem com tanto carinho, mas o excesso preocupa. Aliás, como todo excesso. É claro que, neste momento diferenciado, tem pessoas que estão se aproveitando para aparecer, para vender produto, curso, construir ou alimentar uma imagem, um nome. Por que existe uma necessidade de não ser esquecido. Já diz o velho ditado: "quem não é visto não é lembrado".

        Quem costuma consumir lives, deve ficar atento para evitar a ansiedade, que já está em alta nesse período de isolamento pelo COVID-19, inclusive porque às vezes dá pra ver depois. No Instagram ficam até 24 depois e, no Facebook, se não for apagado por quem fez, fica lá gravadito no más.  

      O ser, do século XIX ao XXI

     A obra de Caspar David Friedrich "Viajante observa um mar de bruma" é um verdadeiro manifesto ao romantismo. Um indivíduo que sobe a montanha e olha de lá, como uma figura solitária e indefesa diante das forças da natureza. Como seria esse indivíduo hoje? Ao chegar na montanha, viraria de costas para a natureza (ao contrário da pintura) faria sua selfie e postaria #SubiAMontanha, (Kkkkk - para causar a inveja) e esperaria os Likes.

         Uma empresária americana chamada Kim Kardashian, 38 anos, fez quase 6 mil selfies durante uma viagem de apenas quatro dias ao México, quando ainda tinha 35 anos. Parece que não dormia (ficou lá 5.760 minutos), pois precisava

mostrar e ganhar Likes. Likes (curtidas) parece ser o centro do viver - as pessoas estão me vendo - sem pensar que quem posta tantas fotos, humanamente, ninguém verá. Quem fala muito, não quer ser escutado. Quem grita muito, perde a razão e não quer ser ouvido. Podemos ter 10.000 likes nas fotos, mas continuamos solitários. 

        Nesse contexto, quem não nos deixa solitários são aqueles que estão sempre juntos da gente, a família. Meia duzia de seres que, de alguma forma estão ali (mesmo que quando estejamos juntos, vamos para o celular falar com quem não está ali, ao nosso lado). Quero dizer que em momento nenhum estou criticando as LIVES, SELFIES e os LIKES  mas propondo uma reflexão sobre isso, em excesso. Até acho que esse movimento durante a quarentena, reanimou o Facebook, que andava meio começando a colocar lives de lado. Mas lembre-se: Produza conteúdo. Faça Roteiro. E comunique-se com qualidade. Faça com que o internauta, ao sair da frente da tela, saia com mais conhecimento do que quando chegou.

Ainda vamos usar muito essas ferramentas e só precisamos pensar mais na responsabilidade desse uso