terça-feira, 19 de janeiro de 2021

Vendido aos 10 anos como escravo pelo pai, foi poeta, jornalista, advogado e abolicionista

 Luís Gonzaga Pinto da Gama - Salvador, 1830 - São Paulo, 1882 


     Um dos expoentes do movimento abolicionista foi o poeta, jornalista e advogado Luís Gama. Era filho de um desconhecido fidalgo de origem portuguesa com uma negra quitandeira livre, Luiza Mahin. Sua mãe era africana de origem Nagô, e participou da Revolta dos Malês (1835) e da Sabinada (1837-1838). Pagã, nunca aceitou o cristianismo e acabou fugindo para o Rio de Janeiro, e desde então nunca mais deu notícias. O pai então passou a cuidar do menino Luís. Inicialmente o tratava bem, mas era desregrado e acabou por vender o próprio filho como escravo, quando o garoto possuía apenas dez anos de idade. 

     O comprador de Luís foi o comerciante e contrabandista alferes Antônio Pereira Cardoso. Após uma longa viagem por São Paulo, onde ninguém se interessou em comprá-lo por ser baiano, Luís acabou por se tornar escravo doméstico na cidade de São Paulo, na casa do alferes que o comprou na Bahia. Ali ele conheceu Antonio Rodrigues do Prado Júnior, estudante de humanidades que lhe ensinou as primeiras letras. 

     Luís Gama fugiu em 1848. Após comprovar a sua condição de livre, serviu como soldado durante seis anos. Deu baixa em 1854, quando já havia alcançado o posto de cabo-de-esquadra graduado. Tornou-se ordenança do conselheiro Francisco Maria de Sousa Furtado de Mendonça, de quem recebeu lições de letras e civismo. Foi amanuense da Secretaria de Polícia de São Paulo, cargo que lhe permitiu aprender as leis e ajudar a defender escravos.

     Em 1864, Luís Gama fundou, juntamente com Angelo Agostini, O Diabo Coxo, jornal satírico paulistano. Ambos também criaram, em parceria com Américo de Campos, o semanário humorístico O Cabrião (1866). Em 1868, foi demitido do cargo de amanuense por integrar o Partido Liberal e por defender ideais liberais na imprensa e na política, além de promover processos judiciais para libertar escravos. A partir de então passou a atuar como rábula e jornalista. Sem recorrer à violência, e valendo-se apenas da retórica e do Direito, libertou mais de mil escravos. Apesar de seu brilhantismo e astúcia como advogado, sempre teve uma vida modesta, uma vez que pouco ou nada recebia dos seus clientes. 

    Gama faleceu em 24 de agosto de 1882. Uma multidão esteve em seu velório, jurando dar continuidade ao movimento abolicionista, o grande ideal da sua vida.

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Fonte: ERMAKOFF, George (org.). Dicionário Biográfico Ilustrado de Personalidades da História do Brasil. Rio de Janeiro: G. Ermakoff Casa Editorial, 2012, pp. 536-537. (Sou-Cesar / BLOG)

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