segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

A mulher na sociedade e no folclore gaúcho

              Para falar sobre a mulher - tema de 2018 para as mostras das prendas - temos que ir além da feminilidade, sedução e maternidade, que a conceituam. É preciso falar – especialmente - do preconceito, misoginia e do olhar masculino derramado sobre ela ao longo de séculos. Por muito tempo as referências sobre a mulher foram masculinas. Na bíblia, na área da moral e nas artes, a mulher foi sempre retratada por homens. O debate e o grande desafio sempre envolveram o corpo feminino e a formação de estereótipos que agradassem a masculinidade vigente.

            Nas mitologias grega e romana, a mulher (Vênus ou Afrodite) é sedutora. Deusas do amor. Já em culturas predominantemente masculinas, como a grega, a mulher exerce um papel secundário e é excluída de tudo que acontece ao seu redor. Nesse caso, a mitologia reúne deuses que representam a natureza humana, eles possuem poderes e são responsáveis pelo entendimento do mundo e das relações entre os seres.

            Mas quem escreve a história? Se é masculina a mão que desliza a pena sobre o papel e a mente que concebe a ideia – homens, pensadores do sexo masculino - então, a forma de ver e referenciar o feminino é através de seus olhos e sentimentos. Na bíblia, o 9º mandamento diz para ‘Não desejar a mulher do próximo’, mas em nenhum momento faz referência sobre não cobiçar o homem. 

            Na pintura feita por Sandro Botticelli, no século XV, a Vênus surgindo nua de uma concha sobre as espumas do mar, figura do feminino platônico, distante. Já Peter Paul Rubens, que pinta a ‘toilette der Venus’, sugere que o que define a mulher é o espelho. Marte representa o homem guerreiro enquanto a mulher, a Vênus, simboliza a vaidade. 

A pintura mostra a Vênus surgindo nua de uma concha sobre as espumas do mar. A obra ainda apresenta Zéfiro, o vento do Oeste, assoprando na direção da deusa, acompanhado pela  ninfa Clóris.  À direita de Vênus, há uma Hora (deusas das estações) que lhe entrega um manto com flores bordadas
            Na sociedade ocidental dos séculos XIX e XX, o patriarcalismo e a misoginia estão fortemente presentes. Destacados pensadores deste período escreveram sobre a mulher sugerindo inferioridade e orientando-as à submissão. O filósofo alemão, Arthur Schopenhauer dizia que a mulher, por natureza, deveria obedecer e que “os homens são indiferentes entre si, mas as mulheres são, naturalmente, inimigas”. Entretanto, contrapondo a afirmação do filósofo, as guerras são feitas entre homens e lutadas por eles. Friederich Nietzche, depois de ser abandonado pela única mulher que amou escreveu: “As mulheres são menos que superficiais”.

             Sem dúvida, uma sociedade na qual grandes nomes do pensamento ocidental, durante décadas, se dirigem à mulher de forma tão desrespeitosa e tirânica, subjugando-as com o fardo da indiferença conseguirá mudar sua percepção sobre o tema?

             No entanto, delegar a mulher à um papel de coadjuvante é menosprezar sua importância na constituição da vida. Sem mulheres, a procriação estaria comprometida e a humanidade relegada à extinção. Sem o apego maternal e sensível da mulher, viveríamos uma sociedade de barbárie, onde as principais referências emocionais estariam seriamente comprometidas. (Restaria entre os homens a luta pela sobrevivência, a indiferença, o poder pela subjugação e a violência).

             A mulher vem lutando para mudar esses conceitos. Há anos, se empenha na conquista de seu espaço e pelo reconhecimento à igualdade que merece. Até a segunda década do século XXI, seu sucesso não passa pela boa vontade masculina. O sufrágio foi uma luta ferrenha, nos EUA em 1920, no Brasil em 1932 e, na Suíça, em 1987. Elas enfrentaram prisão, repressão e tiveram de lutar contra a coação que sofriam dentro de seus próprios lares. O direito ao desquite, mais tarde ao divórcio, o direito a remuneração justa, a igualdade de direitos e o direito à igualdade, a equiparação salarial, o aborto e a criminalização do assédio são pautas muito presentes no dia a dia das mulheres. Há, ainda, um longo caminho pela frente

No folclore

      A melhor bibliografia, sobre o folclore da mulher gaúcha, podemos encontrar nos escritos da professora Elma Santana que produziu obras muito importantes sobre as mulheres. “O folclore da Mulher Gaúcha”, “A mulher na Guerra dos Farrapos”, “as parteiras” e as “Benzedeiras” mostram a preocupação de Elma Santana com o folclore que se formou ao redor da mulher.
Livros publicados pela Folclorista Elma Santana
A mulher no Folclore Gaúcho

      A mulher tem uma importância muito grande no folclore. E impossível conhecer-se um povo sem conhecer o seu folclore e, à medida que nos aprofundamos no folclore do Rio Grande do Sul, vemos o papel muito singular que a mulher tem na sociedade rio-grandense, evidenciando-se a partir da visão que se tem do folclore gaúcho.

      No Rio Grande do Sul, o folclore relativo à mulher é muito rico: o folclore da concepção, da gravidez, do parto, do puerpério, dos primeiros anos da criança, todos eles intimamente correlacionados com a mulher.

      O folclore adivinha a gravidez antes que ela se verifique: basta uma criança engatinhando levantar as perninhas e olhar por baixo, por entre as mesmas; ou então quando duas senhoras estão conversando, fazem uma pausa e retornam a conversa ao mesmo tempo. Isso é sinal certo de que uma ficará grávida e que vão ser comadres. Até é comum uma delas "isolar" dizendo: "Vamos ser comadres".

      Ai vem receitas folclóricas para engravidar, desejos e enjoos,  a mulher gravida (período de gravidez), cuidados após o parto, benzeduras, crendices e superstições, descobrir o sexo do bebê, a força da fé, a menstruação e seu folclore, recomendações folclóricas pós nascimento da criança, namoro, noivado, enfim, muito tem a ser anotado referente ao folclore que envolve a mulher.
Fontes: Video Palestra de Leandro Karnal; Elma Santana; Priscila Peixoto e pintura de Edson Vasques
Simone de Beauvoir
      "É preciso defender as mulheres, inclusive, para que os homens sejam libertados do peso de oprimi-las".

Desafio permanente
      Debater assuntos que afetem diretamente tanto as mulheres quanto os homens.

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