sexta-feira, 11 de março de 2016

14 anos sem Barbosa Lessa

          Luiz Carlos Barbosa Lessa nasceu na  histórica cidade de Piratini (capital farroupilha) no dia 13 de dezembro de 1929. Com as dificuldades para cursar uma escola regular, aprendeu as primeiras letras e quatro operações com sua  mãe, a qual, ao se improvisar de professora, também lhe ensinou teoria musical, um pouco de piano e, inclusive, uma novidade na época chamada datilografia.

        Aos doze anos fundou um jornal escolar ("O Gonzagueano"), quando foi cursar o ginásio na cidade de Pelotas (Ginásio Gonzaga), em que publicou seus primeiros contos regionais ou de fundo histórico. E também fundou o conjunto musical significativamente denominado "Os Minuanos" (uma das tribos indígenas no velho Rio Grande do Sul), que pretendia se especializar em música regional gaúcha mas que, por inexistência de repertório àquela época, teve de se conformar com o gênero sertanejo e um tanto de música urbana brasileira.

          Para cursar o 2º grau, transferiu-se para a capital gaúcha e, ingressando no Colégio Júlio de Castilhos. Aos dezesseis anos de idade já colaborava para uma das principais revistas brasileiras de cultura ("Província de São Pedro") e obteve seu primeiro emprego como revisor e repórter da "Revista do Globo".

          Ao conhecer Paixão Cortes e seus amigos participou da primeira Ronda Crioula, em 1947 e, munido de um caderno de aula para coletar assinaturas de eventuais jovens que se interessassem pelo assunto, tomou a iniciativa para a fundação do primeiro Centro de Tradições Gaúchas, o "35CTG".

         Formou-se bacharel pela Faculdade de Direito de Porto Alegre (UFRGS), 1952. Com seu amigo Paixão Côrtes formou uma abnegada dupla de pesquisadores, de 1950 a 1952, realizou o levantamento de resquícios de danças regionais e produziu a recriação de danças tradicionalistas. Resultado dessa pesquisa da dupla foi o livro didático "Manual de Danças Gaúchas" e o disco long-play (o terceiro LP produzido no Brasil) "Danças Gaúchas", na voz da cantora paulista Inezita Barroso.

           Incentivou a realização do primeiro Congresso Tradicionalista Gaúcho, levado a efeito na cidade de Santa Maria, em 1954, quando apresentou e viu aprovada sua tese de base socióloga "O Sentido e o Valor do Tradicionalismo", definidora dos objetivos desse movimentos.

          Em 1956 montou um grupo teatral para apresentação de sua comédia musical "Não te assusta, Zacaria!", e saiu divulgando as danças e os costumes gauchescos por todas as regiões do Rio Grande do Sul, colhendo aplausos também nas cidades de Curitiba e São Paulo.

          Residiu na capital paulista até 1954, envolvido com produção de rádio, televisão, teatro e cinema, detendo-se finalmente na área de propaganda e relações públicas. Chefe de grupo-de-criação da Jr. Walter Thompson Publicidade e chefe de relações-públicas do Banco Crefisul de Investimentos.

          Voltou a Porto Alegre em 1974, já como especialista em Comunicação Social, tendo trabalhado na Mercur Publicidade e Companhia Riograndense de Saneamento, CORSAN. Aposentou-se como jornalista em 1987.

         Na administração do governador Amaral de Souza, foi Secretário Estadual da Cultura, tendo então idealizado para Porto Alegre um centro oficial de cultura acadêmica, que veio a pré-inaugurar em março de 1983: a Casa de Cultura Mário Quintana. Mantinha pequena reserva ecológica, em sua chácara, no município de Camaquã, onde residia com sua esposa Nilza Lessa, dedicada à produção artesanal de erva-mate e plantas medicinais. Filhos: Guilherme, analista de sistemas, residente em Porto Alegre e Valéria Shalit, casada com norte-americano e residente no estado de New Jersey, USA.

         Teve destacado nome na música popular e na literatura. Dentre suas músicas, sempre de cunho gauchesco, destacam-se "Negrinho do Pastoreio", "Quero-Quero", "Balseiros do Rio Uruguai", Levanta, Gaúcho!", "Despedida", bem como as danças tradicionalistas em parceria com Paixão Côrtes.

          E numa bibliografia de cerca de cinqüenta títulos, destacam-se os romances "República das Carretas" e "Os Guaxos" (prêmio 1959 da Academia Brasileira de Letras), os contos e crônicas de "Rodeio dos Ventos", o ensaio indigenista "Era de Aré", a tese pioneira "O sentido e o Valor do Tradicionalismo", o ensaio "Nativismo, um fenômeno social gaúcho", "Mão Gaúcha, introdução ao artesanato sul-rio-grandense", o álbum em quadrinhos "O Continente do Rio Grande" (com desenhos de Flávio Colin) e os didáticos "Problemas brasileiros, uma perspectiva histórica"", "Rio Grande do Sul, prazer em conhecê-lo", e "Primeiras Noções de Teatro". Também os dois volumes do Almanaque do Gaúcho.

          Foi Conselheiro Honorário do MTG - Movimento Tradicionalista Gaúcho RS. Veio à falecer no dia 11 de março de 2002, deixando uma lacuna grande entre os que pensavam o tradicionalismo e a tradição  gaúcha. Um grande amigo, professor e mestre. Quando recebi em casa o convite para participar dos 20 gaúchos que fizeram o seculo XX, uma promoção da RBS, quando recebi as sugestões numerológicas para escolher o nome do meu filho, quando trocamos cartas, quando fiz parte de uma publicação dele (Almanaque dos gaúchos) - ali entendia nossa grande amizade. Depois que ele partiu minha amizade continuou com Nilza, sua esposa, a qual tenho um carinho muito grande. Descanse em paz professor....

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