quarta-feira, 11 de maio de 2011

Até onde um romance pode ir?

O romance moderno é tipicamente um gênero narrativo, assim como a novela. Não existe uma clareza quanto à diferença entre romance e novela, mas é costumeiro dizer que na novela há urna concentração de ações individualizadas enquanto que no romance há um paralelo de várias ações. Na abertura dos romances deveria obrigatoriamente de constar frases como esta dita por Thiago Santiago, autor de novelas: "Todos os personagens desta obra são ficcionais. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência. Mesmo que haja muitas coincidências".



Faz-se necessário uma proteção de lei que faça o descerramento desta cortina chamada romance por traz da qual se escondem autores nem sempre bem intencionados. É deste contexto que brotam indagações como, por exemplo: Quais seriam os limites de um romance? Camuflada como romance, uma história pode invadir privacidades? Por ser romance pode distorcer os fatos colocando "personagens" reais de forma pejorativa na narrativa?


Levanto essa questão para me referir ao romance "SENHORES DA GUERRA", de José António Severo, que tem como cenário e época os últimos dias da revolução de 1923, no Rio Grande do Sul.


Quero me deter no capítulo 29 intitulado Passo das Carretas, pois sou o autor de uma das obras consultadas, livro que traz o título de Combate no Passo das Carretas que prima pelo ineditismo do assunto levantado e com o qual eu mesmo presenteei o autor. Sem entrar em maiores discussões sobre o "romanceamento" do fato histórico, que talvez crie aonde nunca houve, para dar um colorido diferente a um. Cenário triste e pesado. Assim surgem na história essa tal balsa, inexistente no fato e outras coisas mais.

Mas por aí devem ficar as fronteiras do romance, ou seja, o seu limite, avançar mais que isso significa dizer para os filhos e netos de personagens citados, que os seus antepassados faltaram com a verdade ao lhe transmitirem oralmente a narrativa do combate do passo. E mais que isso, que tiveram um comportamento inadequado para a época. E as gerações vindouras, acreditariam na límpida verdade que recebem ou nela romanceada?


Esse romance teve o poder de arrancar das matarias para virar personagem de nome próprio real, uma pessoa digna, trabalhadora, naquele momento capataz de uma grande estância, para expô-la ao ridículo ao "romancear' de forma pejorativa fato ocorrido quando as forças combatentes lhe levaram um animai.


Todos nós sabemos os romances sempre existiram e naturalmente devem continuar existindo, mas não lhes cabe o papel de arranhar realidades pisoteando inclusive o bom e velho respeito que se deve ter ao citar pessoas reais e é claro de familiares reais, E os pseudônimos? Porque o autor não se utiliza deles? Se for para escrever o que quer, rebatizar, deveria ser a regra.


Volto a insistir: Até onde um romance pode ir?

José Francisco Teixeira
 Autor do livro: "Combate do Passo das Carretas"

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