segunda-feira, 18 de novembro de 2019

O desabafo de Ana Júlia Griguol - Fomos desclassificados!

 
FOMOS DESCLASSIFICADOS!

          Após sermos denunciados por outra entidade participante, fomos denunciados e, consequentemente desclassificados. Motivo?

          Já com os pés no tablado e gratos por estarmos mais um ano na final do ENART, a nossa 1ª Prenda, que inclusive é exemplo de respeito, responsabilidade e comprometimento, apresentava o grupo e, por um equívoco momentâneo, confundiu-se ao anunciar uma das danças sorteadas. Simplificando: ao invés de falar “Caranguejo” falou “Carreirinho”. Uma simples palavra trocada que invalidou toda a dedicação, que destruiu o sonho e que fez com que nossa entidade fosse desclassificada do ENART 2019.

          Determinada entidade (preferimos não dizer o nome, porém, esperamos que esse texto chegue até ela), tendo consciência que determinado equívoco poderia nos desclassificar do festival, não teve dúvidas e nos denunciou por não cumprimento do regulamento, que diz que a Prenda deve falar as danças sorteadas, caso contrário o grupo deve ser desclassificado.

          Pois bem, haverão aqueles que dirão que a entidade agiu de forma correta, afinal, o regulamento deve ser cumprido, não é mesmo? Ou, haverão aqueles que questionarão a relevância deste erro para a apresentação, consequentemente para o bom andamento do maior festival amador da América Latina.

           Participo do CTG Pousada dos Carreteiros desde 2005 e, destes 14 anos, muitos foram representando-o como prenda de faixa e, consequentemente, defendendo o Movimento Tradicionalista Gaúcho por onde fosse. Hoje, desconheço o Movimento pelo qual dediquei muitos anos da minha vida. Conheço seus documentos norteadores e não os reconheço na postura assumida pelo MTG, consequentemente suas entidades, em muitos momentos.

            Não questiono aqui o cumprimento do regulamento, afinal, se ele existe deve ser cumprido. Questiono, porém, a conduta assumida pelas entidades tradicionalistas e a elaboração de um regulamento que acoberta esse tipo de atitude. Pensem comigo.

         O Regulamento do ENART traz, na primeira página, a finalidade e objetivos do festival:
Art. 1º - O Encontro de Artes e Tradição Gaúcha - ENART, tem por finalidade a preservação,
valorização e divulgação das artes, da tradição, dos usos e costumes e da cultura popular do Rio Grande do Sul.

Art. 2º - O Encontro de Artes e Tradição Gaúcha - ENART tem por objetivos:
I - promover o intercâmbio cultural, além de uma retomada de CONSCIÊNCIA DOS VALORES MORAIS do gaúcho entre os participantes das diversas regiões culturais Rio-grandenses; [...]

III - promover a HARMONIA, a INTEGRAÇÃO e o RESPEITO evitando-se a projeção da vaidade e o personalismo entre os participantes;

IV - VALORIZAR O ARTISTA AMADOR do Rio Grande do Sul, evitando atitudes pessoais ou coletivas que deslustrem os princípios de formação moral do povo gaúcho;    [...]

          Ao mesmo tempo, a Resolução 01/2016, publicada pelo Movimento Tradicionalista Gaúcho, atesta que a prenda, no momento de apresentar sua entidade, entre outros pontos, deve falar as danças apresentadas e, caso isso não seja feito, o grupo deverá ser desclassificado. Pois bem, estamos falando do mesmo regulamento? Ambos documentos referem-se ao mesmo festival? Eles prezam pelo mesmo fim? Afinal, trata-se de um festival AMADOR, porém, espera-se a perfeição e a nulidade de erros. Será que os regulamentos devem ser revistos?

          A partir do momento que uma entidade quer a desclassificação de outra para garantir o seu sucesso e, o próprio regulamento do ENART aceita isso, quem somos nós para questionar? Quem somos nós para manifestar indignação e repúdio? Enquanto eles estão com o regulamento embaixo do braço, nós estamos fechando as malas e voltando para casa com o mesmo sonho que todo o dançarino que vai para o ENART tem. Ou, talvez, os dançarinos daquela referida entidade não sonham? Não erram?

        Esse ENART não me serve. Não me deixa feliz e orgulhosa por estar lá. Esse ENART me fez querer ir embora. Me deixou triste e com raiva por ter que aceitar a ignorância, vaidade e individualidade.

        Hoje, questiono-me se o Movimento, que tanto defendi, realmente pratica os seus documentos norteadores, ou se eles existem somente para serem abordados em provas de prendas e peões. A Carta de Princípios, cláusula pétrea do MTG, diz que TODO o tradicionalista deve “[...] IV - Facilitar e cooperar com a evolução e o progresso, buscando a harmonia social, criando a consciência do valor coletivo, combatendo o enfraquecimento da cultura comum e a desagregação que daí resulta.”

        Somos sim uma entidade de cidade pequena, que chegou a final do ENART com sete pares. Nem por isso somos pequenos. Somos grandes por sermos respeitosos e empáticos com o sonho dos outros. Hoje, me pego a pensar como cada dançarino da entidade que nos denunciou se sentiria se tivesse que responder “FOMOS DESCLASSIFICADOS” aos diversos que perguntam “FOI LINDA A APRESENTAÇÃO, COMO FORAM?”.

       Para quem vê esse texto como “dor de cotovelo” por não classificar, peço que leia novamente sob outra perspectiva. Esse não é o problema, afinal, ano que vem tem mais uma edição do ENART e por aí vai. O problema é que tipo de ENART será promovido. Qual ENART deve ser valorizado e super estimado como fizemos até então? Por favor, deixemos de ser hipócritas. Vamos parar de olhar somente para o nosso grupo e perceber que o antigo Mobral, Fegart e hoje ENART idealizado, não existe mais.

       Vamos continuar sonhando com um ENART onde um grupo é desclassificado por causa da prenda errar uma palavra; onde um grupo é desclassificado por ter uma barraca que ultrapassa o limite de altura; onde um blog, que trabalha voluntariamente, não pode fazer o seu trabalho?

        Apesar de desclassificada, voltei pra casa com orgulho de fazer parte de uma entidade como o CTG Pousada dos Carreteiros, que SEMPRE defendeu os princípios de simplicidade, humildade e respeito. Uma entidade que a cada ano alcança reconhecimentos que jamais imaginaria, sem desrespeitar ou excluir alguém. Simplesmente, uma entidade tradicionalista como aquelas que Paixão Côrtes sonhava.

       Assim, pela primeira vez, optei em manifestar minha opinião que, para muitos, pode não valer nada, mas para mim, diz muito sobre a minha vida. A desclassificação zerou nossa dedicação, nossa apresentação e, por hora, nosso sonho. Com essa mesma animação da foto, damos início a uma nova caminhada, com a esperança de momentos melhores.

        E, se for para voltarmos ao ENART, que seja ao lado de grupos de respeito e não como estes que acreditam ser bons.


20 comentários:

edison silveira hipolito disse...

Parabéns Ana Júlia, parabéns ao Pousada dos Carreteiros! Não vejo como um desabafo, mas como uma constatação aos descritérios adotados pelo MTG em suas competições, e isso não é de hoje. Ferem a Carta de Princípios, com suas decisões equivocadas, na maioria das vezes, com anuência de seus filiados. Não desiste prenda, segue teu ideal, teus princípios, o tradicionalismo precisa disso!

Valmir Beltrame disse...

Belo texto Ana Julia.
Consistente, verdadeiro,legítimo...
Infelizmente não é esse o ENART que queremos...o que desejamos deveria cumprir o Regulamento, começando pelos seus objetivos...harmonia, união, integração??!!
Mantenham vossos princípios como dançarinos integrantes de uma grande Entidade, que aprendi a conhecer e admirar pelo trabalho realizado e principalmente pela postura adotada frente a desclassificação.
Sigam acreditando que respeito é muito mais que tentar ganhar impossibilitando o outro de estar ao teu lado nesta conquista...sigam olhando prá frente...persistam na direção dos seus sonhos...2020 já começou.

Claudete disse...

Querida, compreendo e compartilho com todas as tuas colocações. Sou professora, com Doutorado e escrevo poesias há vários anos. Esse ano decidi enviar uma para o ENART e fui desclassificada. Nessa categoria só duas poesias foram agraciadas e a minha, sem explicação, foi desclassificada... Em outro momento, minha filha concorrendo na Ciranda regional, teve uma colega de caminhada que dançou uma dança de salão não prevista no regulamento. De imediato surgiram pessoas dizendo para eu entrar com recurso. O que não fiz e a menina teve os pontos retirados e mesmo assim chegou ao segundo lugar. Enfim, este não é o MTG que eu acredito

Anônimo disse...

Já não basta que essa apresentação inicial não serve pra nada, só pra perder tempo e fazer com que os grupos comecem na corrida à apresentação por conta do dito “tempo”, ser desclassificado por simplesmente falar uma dança errada, sabendo que por vezes o nervosismo toma conta de quem está apresentando, é um absurdo!

Carlinhos Silva disse...

O enart sempre foi uma vergonha no quesito regulamento sempre tem um grupo que perde no palco e usa os artifícios do regulamento para se dar bem encima dos outros e a culpa r nossa que aceitamos isso todo ano.

@stelasoares disse...

Parabéns Ana Júlia, concordo plenamente com teu depoimento... grande abraço!

Unknown disse...

Menos ego e mais amor é o que precisa em todos de mudanças! Parabéns pela coragem e garra em defesa do que é Justo!

JOCE HERANCA disse...

Trabalho com danças a mais de 30 anos, não vejo que vai ser um equívoco, uma palavra, uma alteração de dança que vá decidir uma classificação ou uma desclassificação, pra mim dança é no pé, na alma, dança é momento...

Pensamentos de Audri disse...

Parabéns! Baita reflexão. Espero que mais pessoas tenham acesso a este conteúdo, principalmente os jovens que são o futuro do movimento.

Unknown disse...

Gostaria de demostrar minha solidariedade a entidade desclassificada e aproveitar "os desabafos" para mostrar minha indgnaçao por darem tanta importancia a detalhes que nao interferem em nada no principal objetivo do Enart , que deveria ser de cultivar as nossas tradiçoes... E o que dizer sobre o Enart ser um evento oficial do MTG e um tradicionalista ir pilchado no baile ser considerado " o diferente" entre os demais? e onde grupos de "tradicionalistas" se juntam no parque para cantarem e tocarem Funk e Pagode?...Onde estao as regras??? Se nao colocarem em prática os princípios norteadores do movimento, em breve estará tudo perdido!

Claudia disse...

Nosso grupo sentiu na carne esta injustiça do Regulamento ano passado , além deles se apresentarem a 02 da manhã , onde só estavam no ginásio a nossa torcida e a do grupo seguinte , foram desclassificados por causa de um MICROFONE. Ficamos até as 03 da manhã esperando o resultado do recurso, onde não conseguimos dançar no domingo. É como todos as entidades falam : passamos o ano todo ensaiando , se preparando ,e por causa de "detalhes" que não tem nada a ver com a cultura tradicionalista seus sonhos se dissipam. Não me lembro de estudar na história da Tradição Gaucha sobre microfone , biombo para troca de roupas , prenda ser obrigada a falar sobre as danças e a entidade e tantas outras regras sem noção. Temos que rever se esse Enart é realmente para incentivar a Tradição Gaúcha ou uma disputa desenfreada de ver qual entidade pode mais que a outra.

Adri Rodrigues disse...

Que momento infeliz estamos vivendo. Onde o que vale é o show. Foi se deixando de lado o ser, o amor, o prazer na arte tradiconalista; o que vale é só o TER,sobrepondo o doce bailar, fazendo nossos apaixonados bailarinos reles marionetes do sistema.

Claudia disse...

Nosso grupo passou por uma injustiça do Regulamento ano passado , além deles se apresentarem a 02 da manhã , onde só estavam no ginásio a nossa torcida e a do grupo seguinte , foram desclassificados por causa de um MICROFONE. Ficamos até as 03 da manhã esperando o resultado do recurso, onde não conseguimos dançar no domingo. É como todos as entidades falam : passamos o ano todo ensaiando , se preparando ,e por causa de "detalhes" que não tem nada a ver com a cultura tradicionalista seus sonhos se dissipam. Não me lembro de estudar na história da Tradição Gaucha sobre microfone , biombo para troca de roupas , prenda ser obrigada a falar sobre as danças e a entidade, e tantas outras regras sem noção. Temos que rever se esse Enart é realmente para incentivar a Tradição Gaúcha ou uma disputa desenfreada de ver qual entidade pode mais que a outra.

Claudia disse...

Nosso grupo sentiu esta injustiça do Regulamento ano passado , além deles se apresentarem a 02 da manhã , onde só estavam no ginásio a nossa torcida e a do grupo seguinte , foram desclassificados por causa de um MICROFONE. Ficamos até as 03 da manhã esperando o resultado do recurso, onde não conseguimos dançar no domingo. É como todos as entidades falam : passamos o ano todo ensaiando , se preparando ,e por causa de "detalhes" que não tem nada a ver com a cultura tradicionalista seus sonhos se dissipam. Não me lembro de estudar na história da Tradição Gaucha sobre microfone , biombo para troca de roupas , prenda ser obrigada a falar sobre as danças e a entidade , e tantas outras regras sem noção. Temos que rever se esse Enart é realmente para incentivar a Tradição Gaúcha ou uma disputa desenfreada de ver qual entidade pode mais que a outra.

Unknown disse...

A muitos anos atrás participei de um grupo adulto com sonho de chegar a final do Enart, no primeiro ano nossas planilhas foram rasuradas com corretivo deixando nitida as notas que estavam por baixo, sendo que se aquelas notas tivessem ficado validas outro ctg da rico da 1° RT ficaria de fora da próxima fase, como tudo no país o MTG é mais uma instituição corrupta que não ajuda em nada as entidades tradicionalista e que estrapola os verdadeiros valores da nossa tradição.

Josenio Cerbaro disse...

Boa noite meu nome é Josenio Cerbaro sou Veterinário /tradicionailista/danço na invernada veterana do CTG Planalto Lageano de Lages/SC, tuas palavras foram muito bem colocadas, concordo contigo, bom senso, não é um simples erro de pronuncia que deve levar uma entidade a ser desclassificada.
A política de boa vizinhança, a educação, o bom senso, a hospitalidade, o respeito, a amizade.......o participar, o dançar, o encantar dos dançarinos, o encantar do evento jamais podem ser oprimidos pela competição.
O MTG e os CTGs devem perceber que a competição não faz bem para nosso movimento.
Um quebra costela bem chinchado a todos.

Anônimo disse...

ENART virou carnaval. Ta longe de seguir tradicionalismo. Decepção mais parece a Marquês de Sapucaí.
Lamentável

Anônimo disse...

Lamentável... Parabéns Ana Julia pelo belo texto, infelizmente o ENART virou CARNAVAL como disse o outro colega, nada mais passa de uma ALEGORIA de blocos carnavalescos, onde ao invés de demonstrarem o amor pela dança os grupos de modo geral passam o ano dedicando tempo a montarem suas FANTASIAS e CARROS ALEGÓRICOS para exibição no festival. Gastam horrores, e esquecem do principal, que é a integração com a cultura tradicionalista, seus sonhos se dissipam. É tempo perdido com as montagens, trocas de roupas e afins... Dancei por aproximadamente 15 anos, inclusive na época do FEGART, e posso dizer que sim, naquele tempo era bom, hoje infelizmente não sinto mais vontade de assistir justamente por esse e muitos outros motivos.... Realmente esse não é o ENART que queremos...

Anônimo disse...

Parabéns pelo texto, excelente atitude, espero que seu exemplo seja seguido por todos os injustiçados nesses eventos, não só no RS mas em todos os estados que o MTG organiza os Festivais. Ultimamente não são mais avaliadas às danças, os dançarinos trabalham o ano todo para chegar em uma final e quando chega lá, só o que conta é se a entidade tem dinheiro, é mais famosinho, algumas entidades são piores que aquelas que estão começando, maaaaasssss " falta nome" status. Infelizmente como muitas coisas o MTG é movido pelo dinheiro de quem pode pagar mais.

Anônimo disse...

Parabéns prendinha, foram desclassificados mas mostraram que, mesmo sendo invernada pequena, sabem dançar. Aos grupos que se classificam somente com o regulamento embaixo do braço resta a decepção de jamais sentir a verdadeira sensação da Vitória.